São Paulo, segunda-feira, 15 de novembro de 2010

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Em Cuba, um salto cultural sobre as rixas políticas

Dança une artistas de Nova York a cubanos

Por VICTORIA BURNETT

HAVANA - Com a esperança de superarem a distância política e se reconectarem aos amantes cubanos da dança, o New York City Ballet e o American Ballet Theater se apresentaram neste mês no 22° Festival Internacional do Balé, em Havana.
Seus espetáculos foram exemplos do crescente número de visitas culturais autorizadas pelo governo Obama, apesar da falta de progressos nas relações cubano-americanas. A Jazz at Lincoln Center Orchestra passou uma semana em Havana em outubro, e músicos cubanos, como Silvio Rodríguez e Chucho Valdés, fizeram turnês pelos EUA neste ano, após uma prolongada ausência.
O balé é enormemente popular em Cuba, país em que dançarinos são astros conhecidos, e onde a bailarina Alicia Alonso, que completa 90 anos em 2010, tem um status talvez só inferior ao de Fidel e Raúl Castro. Ingressos para espetáculos de dança custam a partir de US$ 0,25, o que é acessível mesmo num país onde o salário médio é de US$ 20.
No festival, fãs da dança se aglomeravam em torno de José Manuel Carreño, bailarino cubano do American Ballet Theater, pedindo fotos e autógrafos. A plateia, que incluía a própria Alonso e um ou outro astro pop cubano, tinha desde rapazes vestindo jeans e camiseta até senhoras idosas com o cabelo todo arrumado.
"São uma audiência educada", disse Tyler Angle, que, junto com seu irmão Jared, ajudou a organizar a visita do City Ballet.
A cubana Silvia Robinson, 70, disse ter poucas esperanças de que a visita das companhias prenuncie um degelo nas relações entre os dois velhos inimigos. "Não acredito realmente que isso vá além do balé", afirmou. "Mas não importa. Foi maravilhoso vê-los dançar. Absolutamente divino."
Para o American Ballet Theater, a visita teve um quê de regresso. Alonso ficou famosa com a companhia nova-iorquina na década de 1940 e levou vários de seus integrantes a Havana para criar o que hoje é o Balé Nacional de Cuba. Carreño e Xiomara Reyes, colega dele no Ballet Theater, foram alunos do rigoroso método de Alonso.
"É voltar para casa tanto do ponto de vista pessoal quanto artístico", disse Rachel Moore, diretora-executiva do American Ballet Theater. "Alicia estava na fundação da nossa companhia, e há uma sensação de que ela é parte da nossa família." A última visita da companhia foi em 1960.
O American Ballet Theater levou à ilha programas que incluíam "Tema e Variações", de George Balanchine, "Sete Sonatas", de Alexei Ratmansky, e "Fancy Free", de Jerome Robbins.
Os fãs saborearam o sabor americano do festival. Os 1.500 espectadores se puseram de pé quando Megan Fairchild e Andrew Veyette, do City Ballet, encerraram a apresentação de "Stars and Stripes", de Balanchine.
Durante a primeira metade do século 20, o balé era um campo artístico enriquecido pelo intercâmbio Cuba-EUA. Alonso e seu ex-marido, Fernando, entraram para o Ballet Theater logo após sua criação, em 1940, e ela ficou famosa dançando "Giselle", em 1943, antes de voltar a Cuba em 1948.
Kevin McKenzie, diretor artístico do American Ballet Theater, disse que seria "difícil dizer qual é o impacto político" da visita. "Não é nosso propósito aqui fazer qualquer coisa senão falar da nossa afinidade cultural", afirmou. "Acho que é esse diálogo que irá se expandir para horizontes mais brilhantes e positivos no futuro."


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