São Paulo, segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

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Novas tecnologias vão além da conversa fiada

Por ANNE EISENBERG

Os interessados em melhorar suas habilidades comunicativas poderão algum dia contar com um auxílio incomum: programas de software que analisam seu tom de voz, seu comportamento diante do interlocutor e outras características de uma conversa. Os programas então dirão a seus usuários se eles tendem a interromper seus interlocutores, por exemplo, se dominam reuniões com monólogos ou se aparentam descaso quando outras pessoas estão falando.
O inventor da tecnologia é Alex Pentland, do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), que desenvolveu aparelhos semelhantes a celulares para ouvir pessoas enquanto conversam, além de programas de computador que observam os sinais de comunicação escondidos sob as palavras.
Se forem comercializadas, essas ferramentas podem ajudar seus usuários a lidar melhor com as muitas sutilezas das interações cara a cara e em grupo - ou, no mínimo, a portar-se melhor em reuniões.
Pentland vem equipando pessoas em bancos, universidades e outros lugares com smartphones customizados ou aparelhos finos, de aparência semelhante a distintivos, repletos de sensores presos a suas roupas, por dias ou meses. Enquanto essas pessoas conversam, os sensores coletam dados sobre o timing, a energia e as variações de seu diálogo.
As ferramentas que ele desenvolveu podem ajudar as pessoas a modificar suas táticas de comunicação, incluindo as que geram dinâmicas contraproducentes no trabalho, disse David Lazer, professor de política pública na Universidade Harvard.
Lazer elogiou a "riqueza das informações" captadas no processo. "Os dados sutis, registrados minuto a minuto, revelam se você está falando, com quem prefere falar, qual é seu tom de voz e se você tem o hábito de interromper seu interlocutor."
Muitos dos estudos feitos por Pentland com smartphones e distintivos com sensores embutidos são descritos em seu novo livro, "Honest Signals" (Sinais Honestos), lançado recentemente pela MIT Press. Os distintivos utilizam sensores infravermelhos que detectam quando as pessoas estão cara a cara, acelerômetros "para registrar gestos", microfones e processamento de sinais de áudio para captar o tom de voz.
Com os sensores, os distintivos são capazes de detectar o que Pentland chama de "sinais honestos, ou seja, sinais inconscientes transmitidos quando se está cara a cara com alguém" e que sugerem, por exemplo, se a pessoa está ouvindo ativamente o que seus interlocutores estão dizendo e quando não o está. Pentland argumenta que esses sinais subjacentes freqüentemente são tão importantes para a comunicação quanto as palavras e a lógica.
Por exemplo, os distintivos registram quando os ouvintes reagem com acenos positivos da cabeça ou pequenas palavras de reconhecimento, como "certo". Esse tipo de reação, diz ele, é uma espécie de comportamento espelhado que pode ajudar a criar empatia entre a pessoa que fala e aquela que ouve.
Ele também examina como as pessoas viram o corpo ao conversar, além de gestos e outros sinais freqüentemente inconscientes emitidos pela pessoa que fala.
Smartphones futuros que usem sua tecnologia poderão atuar como assistentes pessoais prestativos, fazendo o telefone tocar automaticamente quando as ligações forem de familiares e amigos, mas enviando outras ligações diretamente à secretária eletrônica.
"O telefone poderá ser como um mordomo que conhece você muito bem", disse Pentland, decidindo tocar forte no caso de uma ligação urgente, mesmo que seu proprietário tenha se esquecido de ligar o som do aparelho.
Na pesquisa, muitas medidas foram tomadas para manter anônima a identidade dos participantes, disse Anmol Madan, aluno de pós-graduação de Pentland. O microfone colhia os dados de áudio e registrava o tom e o tempo de conversa, mas não as palavras proferidas.
Madan constatou que os dados registrados pelos celulares são muito mais precisos do que relatos feitos pelos participantes das mesmas conversas. "Quando se recordam de seu comportamento, os humanos não são nada imparciais", explicou.


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