São Paulo, segunda-feira, 16 de março de 2009

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INTELIGÊNCIA

ROGER COHEN

Mudando o jogo

Cidade do Panamá
Vim passar alguns dias no Panamá e posso anunciar que o lugar é um bom antídoto ao pessimismo econômico global: a capital é um grande canteiro de obras, e, embora o boom esteja diminuindo, não desapareceu. O crescimento esperado é de 3% neste ano -número que suscitará a inveja dos EUA.
Dois advogados bem-sucedidos me disseram que o Panamá pode agradecer a Hugo Chávez, George W. Bush e Osama bin Laden por sua boa sorte. Chávez e seus aliados esquerdistas na América Latina levaram muitas pessoas a buscar um porto seguro para investir seus capitais, mas ante as dificuldades em se obter o visto americano após o 11 de Setembro, elas relutaram em depositar seu dinheiro em Miami. Assim, o dinheiro fluiu para a Cidade do Panamá.
Não há, infelizmente, nada de enaltecedor nas obras que estão sendo erguidas -é só um edifício feio após outro. Mas o Panamá sempre foi um lugar de negócios e pessoas mais interessadas em ganhar dinheiro rápido do que em criar beleza. É como uma espécie de Cingapura de segundo escalão.
Durante minha estadia na cidade, um dos iates do bilionário russo Roman Abramovich estava ancorado ao largo da costa.
Na realidade, mais parecia um destróier de luxo. Abramovich já perdeu estimados US$ 6 bilhões na crise atual, mas isso, para ele, não deve passar de troco. O iate tem dois heliportos. Afinal, que embarcação que se preze tem apenas um heliporto?
O Panamá é um ponto de encontro -é o que explica o grande número de comerciantes. O país oferece o único atalho do Atlântico ao Pacífico. O canal está prestes a passar por uma reforma de US$ 5,5 bilhões que o ampliará e ajudará a economia local, enquanto o aquecimento global não abrir uma passagem entre Atlântico e Pacífico pelo Ártico.
Venho pensando no canal do Panamá em conexão com o novo governo de Barack Obama, porque um presidente democrata anterior, Jimmy Carter (1977-81), fez do Panamá uma peça central de sua diplomacia.
O acordo fechado por Carter em 1977 com o general Omar Torrijos de entregar ao Panamá o controle sobre o canal foi uma atitude inesperada que modificou as percepções dos EUA no hemisfério, mudando as regras do jogo. O ianque dominador, que treinara muitos generais latino-americanos implacáveis na infame Escola das Américas, no Panamá, mostrou que era capaz de fazer concessões.
A América Latina não está entre as primeiras prioridades na lista de Obama, dominada pela economia norte-americana devastada e por duas guerras. Mas o governo faria mal em ignorar a região. Os acordos de livre comércio pendentes com o Panamá e a Colômbia precisam ser aprovados pelo Congresso.
Para Obama, Cuba oferece um potencial de avanço de proporções comparáveis às do canal do Panamá. O embargo comercial já perdeu sua utilidade há tempos. A melhor esperança de levar mudanças graduais a Havana está no aumento dos contatos.
Martin Torrijos, atual presidente panamenho de centro-esquerda, é filho do homem com quem Carter fechou seu acordo histórico.
Ele vem exercendo um papel útil de intermediário na região, aliviando tensões entre Venezuela e Colômbia. Seu antigo porta-voz, Jorge Sanchez, disse: "O radicalismo de Chávez se alimentou do radicalismo de Bush e dos altos preços do petróleo. Uma mudança de tom em Washington vai deixar Chávez enfraquecido."


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