São Paulo, segunda-feira, 16 de maio de 2011

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Treino realista pode salvar vidas nas guerras

Por ANDREW MARTIN
e THOMAS LIN

ORLANDO, Flórida - O Exército dos Estados Unidos, que já usa videogames para recrutamento e formação, passou a testar mundos virtuais também.
"Temos de nos adaptar ao local onde estão", disse o general de brigada Harold Greene, do comando de pesquisa e engenharia de desenvolvimento do Exército, referindo-se à familiaridade dos jovens soldados com os dispositivos eletrônicos.
Mas as preocupações de segurança envolvendo os equipamentos sem fio no campo de batalha são um problema, pois as transmissões precisam ser criptografadas. Existe também a crença persistente entre alguns oficiais superiores de que as Forças Armadas não são lugar para jogos, gadgets e avatares.
Por enquanto, o orçamento para o uso de videogames e smartphones no treinamento militar é pequeno. O Exército, por exemplo, gasta cerca de US$ 10 a US$ 20 milhões por ano em licenças, modificações e desenvolvimento de jogos. Mas o uso e a eficácia desses jogos estão crescendo.
Há também dispositivos que oferecem aulas de cultura e de línguas, formação médica e prática de tiro.
"Quando comecei com isso, em 1999, não se podia usar a palavra 'jogo'", disse James Korris, executivo-chefe da Creative Technologies e um dos pioneiros na criação de games militares, como o Full Spectrum Warrior. "Eles eram 'guias de treinamento', 'ferramentas de desenvolvimento cognitivo'."
Os militares são responsáveis pelo crescimento da indústria do videogame. Há décadas, criam simuladores e jogos de guerra para computadores.
Alguns desenvolvedores desses produtos, depois, passaram a trabalhar nas fábricas de videogames. Então, com a sofisticação dos jogos comerciais, os militares também começaram a tomar ideias emprestadas desse meio. Em meados da década de 1990, por exemplo, alguns marines mexeram no popular game Doom, substituindo as armas fantasiosas por outras reais, e os monstros por soldados. Depois, as Forças Armadas colaboraram com meio acadêmico e com os desenvolvedores de jogos para criar o Full Spectrum Warrior, destinado a reproduzir um combate.
O treinamento virtual nunca vai substituir o treinamento ao vivo, que ainda é muito essencial, segundo fontes militares. Mas ele permite que os soldados pratiquem muitas vezes sem o custo de grandes equipamentos, nem o risco de usar munição real.
O VBS 2, um jogo/simulador que roda em laptops, foi criado para os militares por dois irmãos tchecos e pelo líder de uma banda australiana de heavy metal. Ele possui plataforma aberta para que os soldados incorporem detalhes -de uma missão recente, digamos-, de modo que sua base de dados de potenciais situações esteja sempre crescendo. Nos últimos 14 meses, a contribuição dos usuários cresceu 1.200%, segundo as autoridades.
A versão mais recente é capaz de importar detalhadas imagens aéreas e de satélite para que os marines ensaiem em cópias virtuais em 3D dos seus futuros locais de mobilização. O primeiro-tenente Fish Roy, 34, comandante de um pelotão no Afeganistão, disse que o simulador já salvou vidas no terreno. "Toda vez que saímos da rede e interagimos com IEDs [explosivos improvisados] ou disparos de armas pequenas, isso tudo se traduz no que fizemos no simulador", afirmou.
Quando uma simulação dessas termina, contou ele, os soldados estão "suando da cabeça aos pés". "É incrível como ficou realista. É literalmente o mesmo terreno." Os mundos virtuais podem permitir que os instrutores no Afeganistão forneçam treinamento para soldados nos EUA, dando-lhes uma ideia da paisagem e até mesmo apresentando-os às autoridades locais, disse Jeff Mills, coordenador do projeto dos mundos virtuais na Katmai, empresa contratada pelos militares.
Os smartphones também podem ser úteis para os militares. Funcionários citam um recém-criado aplicativo do Livro Azul do Exército, que descreve os deveres básicos dos oficiais. O tenente Fish alertou que os simuladores virtuais não são jogos. "Nós não tentamos tornar o treinamento divertido. Se você não levar a sério, alguém vai morrer."


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