Esteban Felix/Associated Press

Ruínas maias perto de Tegucigalpa; golpe contra Zelaya afastou os investidores estrangeiros

Por BLAKE SCHMIDT

COPÁN, Honduras — Na manhã em que o presidente de Honduras foi deposto, Flavia Cueva acordou um grupo de 30 pessoas que haviam participado de uma festa de casamento em seu eco-resort na selva. Ainda atordoados pela festa na noite anterior, o grupo saiu apressadamente.
Para Cueva, uma hondurenha-americana que passou a última década transformando a fazenda de gado de seus pais em um refúgio com aulas de ioga, passeios a cavalo e comida maia adaptada ao paladar moderno, o turbilhão político em Honduras foi uma calamidade para as reservas.
“Levei dez anos para colocar este lugar no mapa”, ela disse, bebericando vinho em sua varanda com vista para as ruínas de Copán. “Este foi o beijo da morte.”
O golpe que depôs o presidente Manuel Zelaya causou danos econômicos duradouros, isolando um país que apenas recentemente atraiu o investimento e o turismo internacionais.
As praias virgens e as ruínas maias de Honduras levaram 1,5 milhão de turistas para o país no ano passado. Mas o fluxo de viajantes caiu até 70% desde a deposição de Zelaya, em 28 de junho, segundo Ricardo Martínez, que foi ministro do Turismo no governo deposto.
Com o fim da Guerra Fria, Honduras conseguiu deixar para trás anos de regime militar e tornou-se conhecida por sua relativa estabilidade política, atraindo investidores externos. A comunidade de estrangeiros se expandiu de trabalhadores sociais, missionários e veteranos militares para incluir aposentados com seus charutos, estudantes de espanhol, empresários e investidores imobiliários.
A deposição de Zelaya e a condenação internacional que ela atraiu conseguiram isolar novamente o país. Donos de empresas estrangeiras em Honduras tenderam a apoiar o presidente interino, Roberto Micheletti, embora reconhecendo que mandar Zelaya para o exílio talvez tenha sido ilegal. Mas eles concordam que o turbilhão no país está prejudicando seus negócios.
Os irmãos Chris e Will Haughey, de St. Louis, Missouri (EUA), escolheram Honduras para abrir uma fábrica de brinquedos de madeira com certificação de consciência social, por causa de suas matas abundantes, zonas industriais livres de impostos e isenções de tarifas. Sua ideia era comercializar seus jogos de blocos de madeira magnéticos para executivos de empresas e para as famílias como uma alternativa ecológica ao Lego. Mas então veio o golpe de Estado.
Chris Haughey passou uma manhã recente negociando com um grupo de defensores de Zelaya para que o deixassem passar por seu bloqueio na rua a caminho do trabalho. Enquanto os irmãos tentavam entregar as encomendas antes do fim de ano, perderam dias de trabalho com os toques de recolher do governo, que manteve seus empregados presos em casa.
Daniel O’Connor, consultor de investimentos que se mudou da Flórida para Honduras para administrar um dos hotéis mais elegantes da capital, o Honduras Maya, na década de 1990, disse que o tumulto político foi a gota d’água para os investidores já prejudicados pela crise econômica.
“É a tempestade perfeita”, ele disse. Um punhado de resorts de luxo nas ilhas do litoral de Honduras tiveram sua construção interrompida desde que Zelaya foi deposto, ele disse, culpando a cobertura da mídia sobre a violência nos protestos por fazer o país parecer uma zona de guerra.
“Meus amigos estão surpresos de que não estejamos abastecidos com alimentos e armas para seis meses”, ele disse, bebericando uma cuba-libre no hotel Intercontinental em uma tarde recente.
Os empresários esperam que a sensação de normalidade volte logo. Mas a recuperação econômica ainda não aconteceu. Cueva vem demitindo funcionários e reduzindo as horas de trabalho dos que permanecem. Para cortar custos, ela desliga os congeladores e limita as viagens para compras na cidade. “Acredito que isto é maior que todos nós”, disse. “É uma revolução socialista do século 21.”


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