|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Privacidade na internet começa a ser valorada
Adulto jovem aprende a limpar sua reputação digital
Por LAURA M. HOLSON
Min Liu, estudante de artes em Nova York, abriu uma conta no Facebook quando tinha
17 anos e ali relatou sua vida universitária em detalhes, desde os drinques tomados com
amigos até as saídas para casas noturnas. Hoje ela tem 21 anos e recentemente começou
a repensar algumas coisas.
Preocupada com suas perspectivas profissionais, pediu a uma amiga que tirasse da
internet uma foto em que aparecia bebendo e usando um vestido justo. Quando a
supervisora de seu estágio pediu para entrar em seu círculo de amigos no Facebook, Liu
concordou, mas limitou o acesso a sua página na rede. "Quero que as pessoas me levem
a sério", explicou.
É habitual imaginar que as pessoas com menos de 30 anos se sintam à vontade em
exibir todas as facetas de suas vidas on-line. Mas muitos membros da geração que
revelou tudo estão repensando o que significa viver de modo escancarado.
Embora a participação em redes sociais ainda seja grande, uma pesquisa recente da
Universidade da Califórnia em Berkeley constatou que mais de metade dos adultos
jovens entrevistados passou a preocupar-se mais com sua privacidade do que se
preocupava cinco anos atrás, refletindo o número de pessoas da idade de seus pais (ou
mais velhas) que manifestam a mesma preocupação.
Mas as pessoas dessa faixa etária se esforçam mais que os adultos mais velhos para se
proteger. Em estudo a ser divulgado neste mês, o Projeto Internet Pew constatou que
pessoas na casa dos 20 anos exercem mais controle sobre suas reputações digitais do
que adultos mais velhos, deletando posts indesejados e limitando as informações que
circulam a seu respeito.
"A participação em redes sociais requer vigilância, não só em relação ao que você
divulga, mas ao que seus amigos divulgam a seu respeito", disse Mary Madden,
especialista em pesquisas que supervisionou o estudo do Pew.
A erosão da privacidade vem se tornando um problema que preocupa os usuários ativos
de redes sociais. Recentemente o Facebook teve que se apressar a solucionar uma falha
de segurança que permitiu que usuários tivessem acesso às informações supostamente
particulares de seus amigos, incluindo bate-papos pessoais.
Sam Jackson, universitário que começou um blog quando tinha 15 anos e já foi
estagiário no Google, disse que aprendeu a não confiar em nenhuma rede social para
proteger a privacidade de suas informações. "Quando olhos para trás, vejo coisas que
disse quatro anos atrás e que não diria hoje", contou. "Hoje eu me censuro muito mais.
Procuro ser franco, mas tenho consciência da pessoa com quem estou falando."
Ele aprendeu a proteger sua privacidade por tentativa e erro e criou uma teoria própria
para isso: camadas concêntricas de partilha.
Sua conta no Facebook, que tem desde 2005, é estritamente pessoal. "Não quero que as
pessoas saibam que DVDs eu aluguei", explicou. "Se eu compartilho alguma coisa,
quero saber com quem ela está sendo compartilhada."
A desconfiança parece ser generalizada. Na pesquisa telefônica que conduziu com mil
pessoas, o Centro Berkeley de Direito e Tecnologia, da Universidade da Califórnia,
constatou que 88% dos jovens de 18 a 24 anos que entrevistou em julho de 2009
opinaram que deveria haver uma lei que obrigue sites na internet a deletar informações
armazenadas. E 62% disseram que gostariam que houvesse uma lei que garantisse às
pessoas o direito de saber tudo o que um site sabe a seu respeito.
A desconfiança tem se traduzido em atos. No estudo do Pew, os pesquisadores
entrevistaram 2.253 adultos no ano passado e descobriram que as pessoas de 18 a 29
anos tendem a monitorar suas configurações de segurança mais que os adultos mais
velhos.
Os adolescentes mais jovens não foram incluídos nesses estudos; é possível que não
tenham a mesma preocupação com a privacidade. Mas evidências empíricas sugerem
que muitos deles talvez não tenham tido experiência suficiente para compreender as
desvantagens de se compartilhar demais.
Até mesmo o Facebook considera positivo que os jovens estejam refletindo sobre o que
colocam on-line, disse Elliot Schrage, responsável pela estratégia global de
comunicações da empresa.
Texto Anterior: Tendências mundiais Grécia vive uma revolução sem "mocinhos" Próximo Texto: Escola muda a forma como Qatar vê os cegos Índice
|