São Paulo, segunda-feira, 17 de maio de 2010

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Tensão marca a fronteira Irã-Iraque

Por TIMOTHY WILLIAMS
FORTE SHULHA AL ALGH-WAT, Iraque - Em uma faixa desolada de deserto no sudeste do Iraque, um soldado americano recentemente acenou para um militar iraniano que montava guarda em um forte do outro lado da fronteira.
O iraniano pareceu confuso, mas acenou de volta antes de se virar abruptamente.
Os soldados americanos que ajudam os guardas iraquianos a patrulhar a divisa com o Irã nessa terra quente e empoeirada se encontram em uma função peculiar.
Eles estão estacionados a algumas centenas de metros de um inimigo ostensivo pelos quais sentem pouca animosidade, em um lugar onde a própria fronteira não é clara.
Enquanto isso, desempenham uma das missões mais desafiadoras da guerra: treinar a polícia iraquiana para patrulhar suas próprias divisas porosas antes da retirada militar americana, planejada para o ano que vem.
O governo dos EUA considera a missão dos soldados, apesar de seus aspectos confusos, tão crítica que as tropas de fronteira provavelmente estarão entre as últimas a partir até a data marcada para a saída das forças americanas do Iraque, 31 de dezembro de 2011.
Desde a invasão em 2003, os militares americanos acusaram repetidamente o Irã de alimentar a violência e a instabilidade no Iraque; e é nessa parte da fronteira de 1.500 km com o Irã que oficiais da inteligência dos EUA dizem que foram contrabandeados explosivos capazes de penetrar veículos blindados, gatilhos para minas terrestres, foguetes de 240 mm no estilo Katyusha e fuzis de precisão, entre outras armas.
A área próxima ao forte de fronteira, na Província iraquiana de Basra, também é estratégica porque fica perto dos portos marítimos do Iraque e seus maiores campos de petróleo. "A segurança na fronteira do Iraque é uma capacidade fundamental para alcançar a plena soberania e o reconhecimento internacional", disse o major-general Stephen R. Lanza, principal porta-voz dos militares americanos no Iraque.
Como iranianos e americanos não mantêm relações diplomáticas, alguns de seus encontros mais próximos ocorrem ao longo da fronteira iraquiana, incluindo o poluído canal de Shulha al Alghwat, de 10 metros de largura -que teria sido minado durante a guerra Irã-Iraque e que somente cães selvagens ousam atravessar.
"Se houver uma demonstração de força, eles reagirão", disse o sargento James H. Allen, membro da equipe de reforço de fronteira dos EUA. "Se trouxermos um tanque até a fronteira, eles também trarão um. Mas, quando chegamos aqui, acenamos para eles e não apontamos nossas armas."
Enquanto parece haver pouca tensão, os iranianos ocasionalmente realizam manobras no estilo da Guerra Fria, segundo os soldados americanos e iraquianos.
No porto de entrada de Shalamcheh, trabalhadores iranianos recentemente ergueram um mastro gigante encimado por uma grande bandeira iraniana que hoje paira sobre a bandeira iraquiana.
Recentemente, um helicóptero militar do Irã fez círculos no ar antes de avançar vários metros no espaço aéreo iraquiano.
"Veja isso", disse com uma voz de surpresa o tenente-coronel William J. Girard, vice- chefe da equipe de transição na fronteira. "Eles estão forçando as coisas para nos testar.
Eles sabem que ninguém vai atirar contra eles."
Ainda mais estranho, soldados americanos em Shalamcheh viram a própria fronteira iraniana avançar lentamente sobre o que eles acreditavam que fosse o Iraque.
Enquanto os soldados americanos e iraquianos haviam tratado o ponto médio do canal de Shalamcheh como fronteira, os guardas iranianos nos últimos meses avançaram gradualmente a linha vários metros para oeste.
"Esses caras continuam se esgueirando", disse o capitão americano Walter Lillegard.


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