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DIÁRIO DE MILÃO
Itália busca lucros no divórcio
Mudanças sociais no país abrem um mercado promissor
Por ELISABETTA POVOLEDO
MILÃO - Os expositores naquela que foi considerada a primeira feira italiana do
divórcio, ocorrida em Milão neste mês, formavam uma previsível mistura de
advogados, agentes imobiliários, "planejadores de divórcios", laboratórios de exame de
paternidade e agências de relacionamentos.
Igualmente previsível era a horda midiática que apareceu para registrar mais essa
transformação sísmica na sociedade da Itália, um país predominantemente católico e
voltado para a família. Mas esse estereótipo está sumindo rapidamente.
Em 2007, segundo as estatísticas mais recentes, houve mais de 81 mil separações e 50
mil divórcios entre os 59 milhões de habitantes da Itália. Há 30 anos, os divórcios não
chegavam a 12 mil.
Valores como casamento eterno e família unida "são ótimos, mas as mulheres
começaram a viver uma realidade diferente", disse Lorenza Lucianer, duas vezes
separada, funcionária de um escritório. "Nós nos tornamos os EUA. Todo o mundo está
no seu segundo casamento."
Mas não é tão parecido assim com os EUA. Na Itália, a concretização do divórcio leva
cerca de cinco anos a partir da primeira audiência de separação, segundo o advogado
Claudio de Filippi, que tinha um estande na feira.
Ele contou que seu escritório está contestando as leis italianas de divórcio na Corte
Europeia de Direitos Humanos, porque na maioria dos países europeus um divórcio leva
cerca de um ano.
"Mas, é claro, temos o Vaticano aqui. O divórcio tende a ser visto [no país] como uma
medida extrema."
A Itália só aprovou o divórcio em 1974, por referendo, e críticos se queixam de que os
legisladores italianos não acompanharam os novos tempos.
Em 2006, por exemplo, houve uma emenda à lei relativa à custódia de menores, mas "la
mamma" ainda acaba sendo a principal responsável por criar os filhos, segundo
Umberto Vaghi, da Associação Amo Papá, que luta pelos direitos de pais e menores.
O crescente número de divórcios levou Milena Stojkovic a abrir dois anos atrás o que
ela diz ser a primeira agência italiana de planejamento de divórcios, chamada Ciao
Amore, que mantém escritórios em Roma, Trieste e futuramente em Milão.
"O planejamento de divórcio é um conceito muito novo da Itália", afirmou ela, que se
disse satisfeita com o negócio.
E agora aparece uma feira setorial. Aconteceu no subsolo de um grande hotel de
negócios. Segundo o jornalista Franco Zanetti, criador do evento, Viena (Áustria) foi a
primeira capital europeia a ter a sua feira do divórcio, há dois anos. Uma versão
parisiense, em dezembro passado, foi "sociológica e ideológica demais", além de aberta
a viúvos e viúvas, o que, segundo ele, não seria facilmente aceito na Itália.
Então, a feira italiana teve um pouco de tudo, inclusive um autointitulado especialista
em sedução, que deu dicas de como conquistar mulheres em casas noturnas.
As divorciadas eram poucas num sábado à tarde na feira, mas as que vieram tinham
interesses específicos.
Virna Modena, planejadora matrimonial -mas ela própria divorciada-, disse ter ido
ao evento "para conhecer o outro lado da moeda" e avaliar seu potencial comercial.
"Talvez seja um negócio melhor para estar", ponderou.
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