São Paulo, segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

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LENTE

KEVIN DELANEY

Fama instantânea, do tipo que se conquista

Em uma era de reality shows e vídeos, quase qualquer pessoa com a combinação certa de entusiasmo, atrevimento, ritmo e exposição pode reivindicar um momento de estrelato.
Mas então, como qualquer um no show business nos últimos séculos pode confirmar, determinar quem tem poder de permanência é um eterno mistério. Famosos instantâneos recentes, porém, podem ajudar a esclarecer por que alguns conseguem despertar o interesse das massas durante mais tempo que outros.
Susan Boyle, participante do programa "Britain's Got Talent", provocou risinhos zombeteiros da plateia quando subiu ao palco do programa, em abril passado. Mas, quando ela abriu a boca para cantar, a multidão ficou atônita, em um silêncio enlevado, e sua comovente interpretação da canção "I Dreamed a Dream" se tornou um sucesso imediato no YouTube.
Mas, diferentemente de muitas outras sensações instantâneas da web, sua fama não desapareceu na manhã seguinte. O vídeo de sua apresentação foi assistido mais de 310 milhões de vezes, e no mês passado seu primeiro CD tornou-se a estreia de vendagem mais rápida na história britânica, enquanto disparava para o número 1 em Estados Unidos, Austrália, Canadá, Irlanda e Nova Zelândia.
Por que essa solteirona tímida e antiquada, que até o ano passado cantava principalmente na igreja, continua sob o olhar do público? Seu talento inegável é um dos motivos. Mas, como disse Ben Sisario, do "New York Times", "Boyle, que ainda mora na casa de sua família na pequena Blackburn, Escócia, tem o que a maioria das sensações do YouTube não tem: uma história interessante".
Como Boyle, a duradoura atração do capitão Chesley B. Sullenberger III também pode ter origem em sua personalidade discreta. Depois que o capitão Sullenberger fez um pouso de emergência com seu Airbus no rio Hudson congelado, em janeiro passado em Nova York, ele foi saudado como herói pela mídia.
E, com outras manchetes dominadas por políticos escandalosos e fraudes de administradores de fundos de investimentos, sua tranquila competência e sua humildade tocaram fundo no público.
Quase um ano depois, disse ele ao "Times", sua maior surpresa não foi a atenção, mas que "ela tenha durado tanto". Sentimento semelhante foi expresso por outra figura pública antes obscura. "O fato de que meus 15 minutos de fama duraram mais que 15 minutos é surpreendente para mim e completamente misterioso para minha mulher", ele disse. Supostamente, Barack Obama agora já aceitou que sua fama não vai minguar tão cedo.
Carmen Herrera, exemplo de artista talentosa que finalmente está recebendo o que merece, riria diante da expressão "sensação instantânea". Aos 94 anos, ela pinta desde a década de 1930, mas só vendeu seu primeiro quadro em 2004.
Desde então, a artista cubano-americana tem sido uma estrela em rápida ascensão, cujo trabalho foi acrescentado aos acervos permanentes do Museu de Arte Moderna de Nova York, do Museu Hirshorn, em Washington, e da Tate Modern, em Londres.
Por isso, mesmo em uma cultura obcecada pela juventude e de fama passageira, talvez o talento, o profissionalismo e o trabalho duro acabem vencendo. No caso de Herrera, a fama chegou logo após a morte de seu marido, Jesse Loewenthal. Alguns amigos acreditam que ele está orquestrando o sucesso dela no céu. "Eu trabalhei muito duro. Talvez tenha sido eu mesma", contestou Herrera.

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