São Paulo, segunda-feira, 18 de abril de 2011

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O mundo comprime a região Little Italy

Por SAM ROBERTS

Little Italy, no passado o coração da vida ítalo-americana em Nova York, hoje existe na memória das pessoas. Em 1950, quase metade dos mais de 10 mil nova-iorquinos que viviam no coração de Little Italy se identificavam como ítalo-americanos.
Em 2000, o censo constatou que a população de origem italiana tinha encolhido para 6%. Apenas 44 moradores do bairro tinham nascido na Itália, contra 2.149 registrados meio século antes.
Uma pesquisa do censo divulgada em dezembro determinou que a proporção de ítalo-americanos entre os 8.600 moradores da área, que ocupa duas dúzias de quadras em Lower Manhattan, tinha diminuído para cerca de 5%. E, fato quase inacreditável, o censo não encontrou um único residente nascido na Itália.
As únicas ruas que ainda dão a impressão de realmente fazerem parte de Little Italy, Mulberry e Grand, ainda são repletas de veneráveis lojas e restaurantes italianos. Mas anúncios em chinês se espalham pelas calçadas.
O velho clube social da família criminosa Gambino no n° 247 da rua Mulberry deu lugar para uma loja de calçados e bolsas. Em janeiro, mais de cem supostos membros de famílias mafiosas foram acusados de crimes federais; nenhum deles vivia em Little Italy.
Segundo o site Yelp, especializado em comida, o Sambuca's Café, no endereço 105 Mulberry Street, fica em Chinatown -fato humilhante porque o café pertence ao presidente da Associação de Comerciantes de Little Italy.
Dos 8.600 moradores contabilizados pelo censo no coração de Little Italy em 2009, 4.400 eram nascidos fora dos EUA. Oitenta e nove por cento dos nascidos no exterior eram asiáticos. Também em 2009, um imigrante coreano foi o vencedor do concurso de tenores patrocinado pela Associação de Comerciantes de Little Italy. E uma imigrante chinesa foi eleita para representar o bairro na Câmara Municipal.
A Comissão de Planejamento Urbano de Nova York está prestes a aprovar a criação de um Distrito de Melhorias Comerciais de Chinatown que englobará tudo menos dois quarteirões quadrados de um enclave que, no passado, abrangia quase 50 quarteirões e tinha a maior concentração de imigrantes italianos dos EUA.
"Quando os italianos enriqueceram, mudaram-se para Queens e Nova Jersey, vendendo seus imóveis aos chineses, que agora os estão vendendo a vietnamitas e malasianos", contou Ernest Lepore, 46, que, com seu irmão e sua mãe, é proprietário do tradicional café e pastelaria Ferrara, aberto por sua família há 119 anos.
Mas alguns moradores não quiseram deixar um bairro que é rico em história e cultura.
Os filhos de Natalie Diaz são a quinta geração de uma família que veio de Nápoles em 1916. Natalie ainda vive no prédio em que cresceu. A limpeza do bairro, seu aspecto pitoresco e seu baixo índice de criminalidade vêm elevando sua atratividade, levando ao aumento dos aluguéis. Os proprietários de um apartamento de dois quartos em Grand Street estão pedindo US$ 1,5 milhão.
Alguns dos pontos de referência de Little Italy parecem continuar firmes graças aos turistas.
Lou Di Paolo assumiu a direção do Di Palo's, loja de alimentos italianos aberta em 1903, das mãos de seu pai doente em 1990. A vizinha loja de laticínios Alleva, que se anuncia como a queijaria italiana mais antiga do país, foi inaugurada em 1892. Nas duas lojas, trabalham membros da quinta geração das famílias.
"Vamos pegar nossa empresa e olhar para trás, buscando focar a maneira como nossos avós e bisavós comandavam o negócio: voltado à família", disse Di Paolo.


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