São Paulo, segunda-feira, 18 de julho de 2011

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Dinheiro & Negócios

Investidor que fatura com a crise

Por AZAM AHMED
Os profissionais de investimentos têm um novo slogan: o céu pode cair logo mais. A crise da dívida europeia, os desastres naturais e as revoltas políticas fazem com que os especuladores procurem investimentos que prometam proteger os seus portfólios em caso de apocalipse econômico.
Preocupado com um colapso da economia grega? Os "fundos cisne negro" -nome alusivo a fatos raros e inesperados- permitem lucrar na eventualidade de um colapso do mercado. Você acha que uma desaceleração dos EUA ou da China poderia desencadear uma crise econômica? Fundos de índices [ou ETFs, de "exchage-traded funds"] estão surgindo para reforçar a confiança dos investidores.
"Os clientes estão de repente percebendo que o mundo não é tão róseo quanto já foi", disse Ahmed Fattouh, um executivo de fundos de hedge. "Faz bastante sentido ter essas proteções de cauda."
Ou seja, proteções contra aquilo que Wall Street chama de "cauda de risco" -um desastre cuja chance de acontecer seja estimada em menos de 0,5%. Os investidores aprenderam na marra a lidar com a "cauda de risco". Durante décadas, a diversificação dos investimentos foi vista como uma forma de proteção contra quebras do mercado. Mas a crise financeira mostrou que ativos aparentemente não relacionados podem cair em uníssono. Por isso, um crescente número de investidores agora quer proteção contra o fim dos tempos financeiros.
Esses fundos e produtos, geralmente caros e complicados, podem ser comparados a um seguro. Os investidores perdem dinheiro com eles em épocas normais, mas ganham se uma catástrofe se abater. Dezenas de bilhões de dólares estão aplicados nisso, o que representa uma fração pequena, mas crescente dos investimentos mundiais em se tratando de uma estratégia da qual investidores teriam zombado há cinco anos, por julgá-la cara e desnecessária.
"Na última década, vimos duas quebras de Bolsas, o que eliminou os ganhos dos investidores na década e significou um desastre para quem precisou tirar seu dinheiro em momentos de baixa a fim de arcar com despesas grandes", disse Zvi Bodie, professor de finanças da Escola de Administração da Universidade de Boston.
Bancos como o Goldman Sachs têm oferecido ferramentas destinadas a proteger os investidores. Produtos ligados a um índice conhecido como "medidor de medo" do mercado já totalizam cerca de US$ 2,5 bilhões. E, no ano passado, a megagestora de fundos Pimco duplicou o volume de capital em contas ligadas à "cauda de risco", chegando a US$ 23 bilhões.
Mas como funcionam esses "fundos do apocalipse"? Imagine o colapso da economia da China, algo improvável. Embora muitos investidores não possuam ações, imóveis ou moeda da China, há temores de que um choque chinês se espalhe para o resto do mundo. Com a queda na cotação das ações, um fundo "de cauda de risco" ou "cisne negro" teria lucro porque possui opções para vender ações do índice do Standard & Poors 500 a níveis mais elevados. Quanto maior a queda do índice, mais valiosas as opções se tornam.
Na Universa Investments, Mark Spitznagel já arrecadou mais de US$ 6 bilhões para um fundo que está aguardando uma calamidade. Enquanto isso, admite, ele perde dinheiro praticamente a cada dia em que o mercado permanece estável. Para gerir um fundo desses, segundo ele, "é preciso alguém meio maluco", capaz de absorver prejuízos sem perder a compostura.
Nem todos os investidores entraram nos fundos do apocalipse. "A cauda de risco está aí, todos nós sabemos, mas se você tiver uns 20 fundos de hedge, está realmente à procura de estratégias que funcionam no quadro geral", disse Craig Slaughter, que administra cerca de US$ 12 bilhões como chefe do Departamento de Gestão de Investimentos da Virgínia Ocidental. "Focar nas estratégias de cauda de risco -tenho um pouco de desconfiança. É meio que uma técnica de vendas."


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