São Paulo, segunda-feira, 18 de outubro de 2010

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Um esforço para salvar rãs doentes

Por ERICA REX
Uma doença fúngica mortal que causou o declínio de 40% de rãs, sapos e de salamandras do mundo atingiu a Sierra Nevada, na Califórnia.
A quitridiomicose, que causou a extinção de pelo menos 200 das 6.700 espécies de anfíbios do mundo na última década, devastou a rã de perna-amarela da Sierra Nevada, ou Rana sierrae.
Na bacia de Dusy, nos Parques Nacionais das Sequoias e de Kings Canyon, o doutor Vance Vredenburg, professor de biologia na Universidade Estadual de San Francisco, está realizando um experimento que ajudará a preservar o que resta dessas rãs, que já foram abundantes. Vredenburg e seus colegas estão inoculando as rãs infectadas com quitrídio com uma bactéria, a Janthinobacterium lividum, ou J. liv. Ela não evita a infecção, mas parece atenuá-la e poderá ajudar os anfíbios a sobreviver.
O doutor Vredenburg e seus colegas descobriram a bactéria simbiótica em várias espécies de anfíbios durante experimentos de laboratório no ano passado. Eles mostraram que a J. liv produz um metabolito, a violaceína, tóxico para o fungo quitrídio.
Vredenburg, 41, vem realizando pesquisas com rãs na Sierra desde a década de 1990, quando ele e seus colegas contaram 512 populações de anfíbios espalhadas por milhares de lagos nas montanhas.
Em 2009, 214 dessas populações estavam extintas. Outras 22 mostravam sinais da doença. No início dos anos 1900, as rãs eram tão comuns na região que os visitantes dos lagos pisavam nelas, segundo relatos.
Ele escolheu rãs, porque queria fazer "ciência básica que pudesse ser aplicada para solucionar alguns problemas do mundo real, como a crise de biodiversidade."
Os biólogos não sabem o que levou o fungo quitrídio à Sierra Nevada. Mas a pesquisa de Vredenburg mostrou que ele se espalha em uma onda linear, um padrão de infecção semelhante ao das epidemias humanas.
Em julho, Vredenburg e seus alunos capturaram e marcaram cem rãs, aparentemente as últimas que restavam na bacia de Dusy, com etiquetas de radiotransmissão. O grupo experimental continha 80 rãs; 20 foram designadas como controle. O doutor Vredenburg e sua equipe colocaram as rãs experimentais em recipientes plásticos em um banho de uma cultura de J. liv durante uma hora-tempo suficiente para que a bactéria colonizasse a pele dos anfíbios. Depois, libertaram as rãs nos lagos e rios onde tinham sido capturadas.
O doutor Vredenburg retornou no início de setembro e capturou 43 rãs, incluindo 33 que tinham sido tratadas anteriormente com J. liv.
As rãs inoculadas no início do verão tinham sobrevivido. Várias semanas depois, o cientista recebeu os resultados do laboratório: todas as rãs apanhadas no início de setembro estavam infectadas com quitrídio. Os animais inoculados tinham os níveis mais baixos de infecção.
Vredenburg está esperançoso sobre o experimento, mas, como muitos dos seus colegas, não se mostra otimista sobre o futuro dos anfíbios.
"Ainda há lugares no mundo onde o quitrídio não apareceu, como Madagascar", disse. "Mas vai aparecer. É apenas questão de tempo."


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