São Paulo, segunda-feira, 19 de julho de 2010

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Farmacêuticas da Índia ganham papel global


Patentes e qualidade podem se tornar empecilhos ao setor

Por HEATHER TIMMONS

HALOL, Índia - A indústria de medicamentos indiana já foi famosa por fazer imitações baratas de remédios ocidentais e vendê-las nos países em desenvolvimento.
Mas a Índia, tarimbada no ramo, começa a adotar um papel mais importante na indústria global de medicamentos, em consequência do recente reforço da lei de patentes e da pressão dos custos sobre os fabricantes de drogas de marca no Ocidente.
E, apesar de a indústria indiana -que deverá crescer cerca de 13% neste ano, superando US$ 24 bilhões- ter enfrentado problemas de qualidade, ainda se beneficia da crescente desconfiança sobre os ingredientes de outro histórico fornecedor de drogas de baixo custo -a China. Os EUA são o principal consumidor das exportações de drogas da Índia.
A Índia está se tornando uma "base de fabricação para o mercado global", disse Ajay G. Piramal, presidente da Piramal Healthcare, fabricante de remédios sediada em Mumbai.
Não são apenas os executivos indianos que estão otimistas quanto à indústria farmacêutica local.
Analistas, grupos de pesquisas e consultorias têm feito previsões semelhantes, e grandes laboratórios farmacêuticos também estão entrando em cena.
Neste ano, Piramal vendeu seu negócio de medicamentos genéricos para os Laboratórios Abbott por US$ 3,7 bilhões, a última de uma série de aquisições e joint ventures no país.
A Daiichi Sankyo, do Japão, ajudou a promover a entrada de laboratórios estrangeiros na Índia em 2008, ao comprar uma participação nos Laboratórios Ranbaxi, o maior grupo do país. No ano passado, entre outros negócios, a GlaxoSmithKline fez parceria com os Laboratórios Dr. Reddy's; a Pfizer uniu-se à Claris Lifesciences; a Sanofi-Aventis assumiu o controle da Shantha Biotechnics, e a Bristol-Myers Squibb abriu um centro de pesquisas na Índia com a Biocon.
"Há bons talentos por um preço muito menor na Índia", disse Jim Worrell, executivo-chefe da Pharma Services Network, consultoria dos EUA que está organizando visitas a fábricas indianas para farmacêuticas ocidentais.
As próximas oportunidades para a Índia poderão chegar na ponta mais sofisticada do setor, incluindo pesquisa e desenvolvimento para as gigantes mundiais e até a criação de medicamentos.
"Podemos resolver o problema da descoberta de drogas patenteadas na Índia por um preço muito menor" que no Ocidente, previu Piramal, que manteve sua operação de pesquisa e desenvolvimento, a Piramal Lifesciences Limited, quando vendeu o restante de sua firma para a Abbott.
Se para as grandes farmacêuticas custa "de US$ 1 bilhão a US$ 1,5 bilhão descobrir uma nova droga, podemos fazê-lo por 10% desse valor" na Índia devido aos baixos salários, prevê Piramal.
A Índia exportou cerca de 384 bilhões de rupias (R$ 14,5 bilhões) em drogas e serviços para a indústria farmacêutica no ano fiscal de 2008-09, segundo o governo, um aumento de 25% em relação ao ano anterior. O crescimento recente, porém, foi obscurecido por problemas de qualidade. O Departamento de Drogas e Medicamentos dos EUA (FDA) processou a Ranbaxy por violações de fabricação várias vezes nos últimos anos e, em fevereiro, ordenou uma revisão das operações globais de fabricação da companhia.
Em maio, a Sanofi-Aventis fez o recall de vacinas fabricadas pela Shantha Biotechnics que foram distribuídas para a OMS, depois que usuários se queixaram de sedimentos brancos nos frascos.
Em junho, a Pfizer fez o recall de drogas injetáveis fabricadas pela Claris Lifesciences e vendidas nos EUA.
A propriedade intelectual também é um problema. A Índia endureceu suas leis de patentes, mas dezenas de casos ainda estão em disputa entre a Índia e empresas estrangeiras em tribunais de todo o mundo. E as grandes companhias farmacêuticas ainda acham difícil garantir a proteção de sua propriedade intelectual na Índia.
Ainda assim, as companhias indianas têm "muito para oferecer" em comparação à China, e "a vantagem do custo é enorme", disse Swetha Shantikumar, analista da Frost & Sullivan em Chennai.


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