São Paulo, segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Texto Anterior | Índice | Comunicar Erros

Abrigo nuclear ganha vida nova como galeria de arte

Por GINANNE BROWNELL
SARAJEVO, Bósnia-Herzegóvina - Graças aos esforços de vários artistas, curadores e entusiastas da arte, um bunker nuclear da época da Guerra Frialocalizado nas proximidades de Konjic, a uma hora de Sarajevo, ganhou uma finalidade nova.
Desde maio o local abriga a exposição de arte contemporânea "No Network: Time Machine Biennial", projeto que inclui trabalhos de 44 artistas, de 17 países, e deve ficar aberto à visitação pública até 27 de setembro.
O diretor da exposição, Edo Hozic, espera que o D-O ARK Underground -o nome do bunker- vire um museu permanente.
"Acho que este é o museu mais caro construído na história humana", disse -o bunker custou US$4,6 milhões. "As opções eram fechar o bunker ou fazer como os egípcios com as pirâmides ou os chineses com a Grande Muralha: preservar o lugar de alguma maneira. E, pelo fato de colocarmos obras de arte em seu interior, podemos criar um espaço interessante."
A ideia da mostra nasceu de uma visita de Hozic a Konjic, três anos atrás. Ele já administrou museus e trabalhou em projetos culturais bósnios, e do artista plástico Jusuf Hadzifejzovic, de Sarajevo.
"Fomos a Konjic para planejar uma mostra de arte pequena, e nos falaram sobre o bunker", contou Hozic.
Eles acharam que o bunker poderia ser um veículo para criar vínculos mais fortes entre os países que compõem a antiga Iugoslávia, além de outros na Europa central e do leste.
Para dar um clima regional forte à bienal, foram escolhidos curadores da Sérvia e de Montenegro. O ambiente de criatividade focou mais que o espaço físico do bunker. Também foi abordado o significado histórico e simbólico do bunker e sua importância edurante a Guerra Fria.
"A verdadeira perversão está no fato de terem construído algo ao longo das décadas que custou caro, que proporcionava abrigo e que era estável o suficiente para sobreviver a uma guerra atômica", comentou Marko Lulic, artista vienense de origem sérvia e croata, "mas então explodiu uma guerra civil de dentro para fora -algo do qual um abrigo caro não os ajudou a escapar."
Lulic disse que seu trabalho "Istambul/Istanbul", uma peça semelhante a uma placa que está exposta fora do bunker e mapeia várias estruturas escondidas espalhadas pela Iugoslávia durante a Guerra Fria, é uma tentativa de trazer à tona esses locais ocultos.
Uma instalação do artista estoniano Villu Jaanisoo, "A Névoa é uma Nuvem Relacionada à Terra", feita de centenas de longas luminárias utilitárias penduradas do teto em uma das salas de manutenção, aproveita os aspectos físicos e também olfativos do espaço -repleto de tanques que cheiram a óleo combustível e mofo.
Há uma instalação poderosa de outro artista bósnio, Radenko Milak, que pintou uma série de reproduções da foto feita em 1992 pelo fotojornalista americano Ron Haviv de um soldado sérvio prestes a chutar uma mulher ferida em Bijeljina, no início da guerra. Lulic disse que o simples fato de a exposição ter acontecido já é surpreendente. "Não devemos esquecer que ainda é um complexo militar", afirmou.
"Essa é a vantagem e também a desvantagem de um país em transição. É caótico -mas, por outro lado, talvez seja mais fácil promover aqui uma mostra como esta do que em um país mais regulamentado. Nunca poderíamos fazer uma bienal em Fort Knox."


Texto Anterior: Fotógrafos fugazes, capturados pela câmera
Índice | Comunicar Erros



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.