São Paulo, segunda-feira, 20 de abril de 2009

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Militância trabalhista perde espaço nos EUA

Por STEVEN GREENHOUSE

Os trabalhadores e manifestantes que se reuniram em massa durante a recente reunião do G20, em Londres, estavam continuando uma antiga tradição europeia de levar suas reivindicações para as ruas.
Em comparação, nos EUA, onde a GM planeja suas maiores demissões, os sindicatos parecem passivos. Ao contrário de seus colegas europeus, os trabalhadores americanos em geral ficaram fora das ruas, mesmo enquanto o desemprego sobe e as empresas cortam salários e benefícios.
O país teve uma história rica e às vezes militante de protestos trabalhistas —desde a greve da siderúrgica Homestead contra Andrew Carnegie em 1892 até as greves “sit-down” dos operários automobilísticos nos anos 1930 e a paralisação de 400 mil trabalhadores da GM por 67 dias em 1970.
Mas, nas últimas décadas, os trabalhadores americanos têm cada vez mais evitado essa militância, por motivos que vão do medo de ver seus empregos terceirizados no exterior a sua autoimagem como membros plenos da classe média, com todas as suas armadilhas e aspirações.
David Kennedy, autor de “Freedom From Fear: The American People in Depression and War, 1929-1945” [Liberdade do medo: a população americana na depressão e na guerra, 1929-1945], diz que a corrente individualista nos EUA é o principal motivo para essa relutância em ir às ruas. Citando um estudo de 1940 da psicóloga Mirra Komarovsky, ele disse que as entrevistas feitas por ela com os desempregados na época da Grande Depressão revelaram que “a reação era sentir-se culpados e envergonhados, [era] de fracasso pessoal”.
Somados, a culpa, a vergonha e o individualismo solapam impulsos de ação coletiva, tanto na época como hoje, disse Kennedy. Notando que os americanos estavam surpresos e desesperadamente inseguros no começo da Depressão, ele escreveu: “O que marcou a maioria dos analistas, e os mistificou, foi a docilidade da população americana, sua passividade enquanto o moinho da Depressão os triturava”.
Em meados dos anos 1930, porém, os protestos de trabalhadores aumentaram em número e militância. Eles foram incentivados pelos então poderosos partidos Comunista e Socialista e as frustrações pela constante privação. Os trabalhadores também sentiram que tinham a bênção do presidente Franklin Roosevelt (1933-45) para a ação coletiva depois que ele assinou a Lei Wagner em 1935, dando aos trabalhadores o direito de se sindicalizar.
Isto levou a um poderoso movimento trabalhista que representava 35% dos trabalhadores do país na década de 1950 e criou a maior classe média do mundo.
Hoje os trabalhadores americanos tendem a se considerar uma parte da classe média em ascensão. Já os trabalhadores europeus muitas vezes se veem como proletários em uma constante luta de classes.
E os líderes trabalhistas americanos, que já foram incitadores das massas, hoje muitas vezes trabalham ao lado dos executivos para melhorar a competitividade da empresa e proteger empregos e aposentadorias, afastando ativistas linha-dura.
“Há uma diminuição geral da liderança sindical que se dedicava a defender os trabalhadores por quaisquer meios necessários”, disse Jerry Tucker, antigo militante do sindicato UAW, do setor automobilístico. “A mensagem da liderança sindical hoje é muitas vezes: ‘Não temos opção, temos de seguir esse caminho de concessões’”, ele disse.
A agressividade dos trabalhistas também foi prejudicada pela redução do número de seus membros. Hoje os sindicatos representam apenas 7,4% dos trabalhadores do setor privado.
Michael Kazin, historiador da Universidade Georgetown, em Washington, disse que enquanto as demonstrações continuam sendo um canal vital para a esquerda europeia, para os americanos “a internet hoje de certa forma serve como canal principal”, com blogs e e-mails maciços.
Kennedy viu outro motivo para que os jovens trabalhadores e jovens em geral protestem menos hoje do que nas décadas passadas. “Esta geração encontrou maneiras mais eficazes de mudar o mundo”, disse. “Está envolvida em campanhas políticas e não espera que as coisas fiquem tão terríveis que seja obrigada a sair às ruas.”


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