São Paulo, segunda-feira, 20 de julho de 2009

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Ônibus de Bogotá vira referência mundial

Por ELISABETH ROSENTHAL

BOGOTÁ, Colômbia — Como a maioria das grandes avenidas nas cidades cada vez maiores do mundo em desenvolvimento, a Sétima Avenida de Bogotá lembra um estacionamento barulhento e esfumaçado, com seus engarrafamentos de carros e vans que há muito tempo garantem o transporte da população.
A poucas quadras de distância, porém, veículos vermelhos repletos de passageiros se deslocam rapidamente pelas quatro pistas centrais da Avenida de las Américas. Os ônibus compridos, segmentados e com baixo grau de emissões de gases fazem parte de uma novo sistema de transporte público conhecido como “bus rapid transit” (ônibus de trânsito rápido), ou BRT.
O sistema lembra mais um metrô de superfície que uma coleção de linhas de ônibus. Conta com sete linhas que se entrecruzam, estações fechadas nas quais o passageiro entra e passa por uma catraca com seu cartão e ônibus cujo interior lembra o de um bonde.
Versões do mesmo sistema estão sendo planejadas ou construídas em dezenas de cidades em vários países —entre elas, Cidade do México, Jacarta, Cidade do Cabo e Ahmedabad, na Índia—, oferecendo um tipo de transporte público que melhora o trânsito e reduz a poluição, tudo isso a um custo que não passa de uma fração do gastos de construção do metrô.
O sistema pode ajudar no combate às mudanças climáticas, ante a previsão de que as emissões ligadas aos transportes aumentem mais de 50% até 2030. E 80% desse aumento se dará no mundo em desenvolvimento.
Os sistemas de ônibus de trânsito rápido como o de Bogotá, conhecido como TransMilenio, podem representar uma resposta. Hoje usado para em média 1,6 milhão de viagens por dia, o TransMilenio permitiu a Bogotá retirar de circulação 7.000 ônibus particulares pequenos, reduzindo o consumo de combustível de ônibus —e as emissões que o acompanham— em mais de 50% desde que foi aberta a primeira linha, em 2001, segundo a prefeitura.
No ano passado, o TransMilenio se tornou o único grande projeto de transporte público aprovado pelas ONU para gerar e vender créditos de carbono. Analistas dizem que a venda dos créditos já rendeu a Bogotá um valor estimado em entre US$ 100 milhões e US$ 300 milhões. “Bogotá era uma cidade enorme, desorganizada e pobre, então as pessoas disseram: ‘Se Bogotá conseguiu, por que nós não podemos também?’”, disse o economista e ex-prefeito da cidade, Enrique Peñalosa, que levou o TransMilenio da fase de conceito até sua inauguração, em 2001, e agora está assessorando outras cidades. Em 2008, a Cidade do México inaugurou sua segunda e bem-sucedida linha de ônibus de trânsito rápido, que já reduziu as emissões de dióxido de carbono da cidade, segundo Lee Schipper, especialista em transportes da Universidade Stanford, na Califórnia. A capital mexicana também se candidatou a vender créditos de carbono.
Mas os sistemas BRT não representam a resposta para todas as cidades. Nos EUA, onde o custo é um fator menos limitador, algumas cidades, como Los Angeles, já construíram BRTs, mas seus sistemas tendem a não ter muitos dos componentes dos sistemas grandes como o TransMilenio, que incluem estações fechadas, e funcionam como extensão de redes ferroviárias já existentes.
Em algumas cidades grandes da Índia, onde a tradição do uso de pequenas motocicletas pode dificultar a criação de um sistema de ônibus rápidos, pesquisadores estão trabalhando para desenvolver um novo modelo de táxi motorizado, que seja barato e funcione com combustíveis alternativos ou com motor de alta eficiência. “Existem 3 milhões de riquixás apenas na Índia. A fumaça que produzem é extraordinária, de modo que os combustíveis alternativos podem exercer um impacto enorme”, disse Stef van Dongen, diretor do Enviu, grupo de rede ambiental de Rotterdam, Holanda, que está patrocinando a pesquisa.
O TransMilenio transporta mais passageiros por quilômetro por hora que quase qualquer metrô do mundo. A maioria das cidades mais pobres que já construiu metrôs, como Manila, nas Filipinas, e Lagos, na Nigéria, só tem recursos para construir poucas linhas. E a construção dos sistemas de ônibus de trânsito rápido leva menos tempo, segundo Walter Hook, diretor executivo do Instituto de Transportes e Política do Desenvolvimento, em Nova York.
“Quase todas as cidades em processo de desenvolvimento rápido entendem que precisam de um metrô ou sistema semelhante. É possível contar com um BRT até 2010 ou um metrô até 2060”, disse.


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