São Paulo, segunda-feira, 20 de setembro de 2010

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A arte aconchegante da vovó atrai devota subversiva

Por PENELOPE GREEN

Boo Davis gosta de dizer que faz colchas de retalhos "exatamente como sua avó meio cega e amante de metal faria". Uma fã de Ozzy Osbourne, Metallica e trash metal de antigamente, Davis, 36, tornou-se conhecida nas artes alternativas usando técnicas de patchwork para criar colchas com desenhos como caveiras ou o sinal manual dos chifres do diabo, sob a marca Quiltsryche.
Depois de muita badalação na imprensa de Seattle, Washington, sua cidade natal, ela escreveu "Dare to Be Square Quilting" [Ouse ser quadrada nas colchas]. É um livro sério sobre essa técnica, mas, com desenhos "mais bonitos que malignos", para emprestar uma frase de Davis, os leitores talvez não percebam seu lado subversivo.

P. A senhora pode compartilhar alguns dos projetos daquela primeira proposta?
R. [Rindo] Há algumas pérolas aqui. Existe o Buraco do Inferno, um tributo aos heróis suecos do At the Gates. [Lendo sua proposta]: "Esta colcha mostra as Portas do Inferno que o recebem com uma variedade de listras romanas".

P. O Slash ou algum outro de seus heróis musicais já comprou uma colcha?
R. Digamos que eu ainda não descobri exatamente o segredo do modelo empresarial de colchas. Dois anos atrás, fui contratada pela mulher de um membro da banda Slayer. Desenhei um Anjo da Morte e ainda estou esperando para fazer a colcha. As colchas que vendi superam os salários das oficinas de trabalho semiescravo, mas quando se trata de colchas heavy metal não me importo em fazer caridade por Satã. No entanto, seria bom descobrir uma maneira de pagar a hipoteca do meu apê e comprar comida congelada no fim do dia.

P. Conte-me sobre seu apê.
R. É um quitinete. Meu ateliê de colchas é na sala de jantar. Esse livro foi uma espécie de missão suicida, devo dizer. Foi uma jornada para a loucura como nenhuma outra. Tenho sorte quando consigo fazer uma colcha por ano, e para o livro eu fiz 12 em três meses. Deixei meu emprego para fazer isso. Tinha trabalhado dez anos como desenhista no Seattle Times. Foi um grande salto de fé. Eu não tinha um tostão de poupança. Peguei um empréstimo e entrei loucamente nas dívidas.

P. O que gostaria de fazer agora? Trabalharia em outras mídias?
R. Não estou interessada em outras mídias. A atração das colchas é que elas são peças de arte usáveis. Para mim, quando uma colcha deixa de ser confortável ou é tão preciosa que tem de ser pregada na parede, não me interessa mais. Qualquer coisa fora do algodão clássico é loucura para mim. Posso lhe fazer um pequeno sermão que está cozinhando na minha mente?

P. Claro, diga o que quiser.
R. Eu apenas quero dizer que é extremamente perturbador ver colchas e projetos em patchwork vendidos quase de graça na Etsy. Você vê colchas muito elaboradas por apenas US$ 300. Isso representa alguns centavos por hora. Uma pessoa se dedica muito a uma colcha de retalhos. É um trabalho artístico de amor, que merece respeito. Acho que as fazedoras de colchas de retalhos do mundo precisam se erguer e começar a fazer greves.


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