São Paulo, segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

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LENTE

A próxima bolha habitacional

O sonho grande passou por um processo de downsizing e tornou-se mais aconchegante. As casas, que encarnam muitos desses sonhos, estão ficando menores, e toda uma indústria caseira de pequenez vem surgindo à medida que as pessoas buscam abrigo, fuga e realização em cantinhos minúsculos.
Liu Ming, que dá aulas de medicina chinesa e feng shui na Califórnia, vive em um loft de 102 metros quadrados. "Não há nada aconchegante aqui", diz ele, falando de seu espaço arejado.
Então, ele instalou em seu loft um cubo de dois metros, feito de compensado e acrílico, que faz as vezes de espaço de meditação, sala de chá, local de estudos e espaço para dormir.
"No feng shui, falamos da harmonia do local em que você vive", ele disse ao "New York Times". "O cubo surgiu do desejo de ter algo aconchegante e, ao mesmo tempo, a opção de conservar um grande espaço aberto."
A microcasa vem se tornando um veículo de transformação, quando não de tranquilidade.
Em seu terreno de seis hectares nos Montes Catskill, duas horas ao norte de Nova York, Sandra Foster criou a casa de seus sonhos, reformando uma cabana de caça para convertê-la em um chalé vitoriano de três por quatro metros. "Meu refúgio" é como chama o espaço.
Não há banheiro nem cozinha, mas é um espaço que ela vinha imaginando desde que tinha 15 anos e sua família perdeu sua casa. É um lugar "que satisfaz a alma", cheio de candelabros e pilhas de louça. "Se você não tem casa, não tem a sensação de pertencer a um lugar", disse ela ao "Times". "Você não tem uma vida, não tem alma."
A não ser que seu espaço fique no quintal. Empresas como a Kithaus, Modern-Shed e Shelter-Kit vendem barracos pré-fabricados que fazem as vezes de escritórios, quartos para brincar ou cabaninhas de praia, a partir de US$ 10 mil. Com o fim das premissas de que era possível ganhar lucros rápidos com a venda de casas, as pessoas estão procurando formas de ficar felizes sem sair do lugar. E o barraco se tornou maneira de escapar das distrações da vida doméstica.
Casas pré-fabricadas portáteis, muitas com pouco mais de nove metros quadrados, fazem parte do culto ao pequeno. A estrutura de um cômodo só HabiHut pesa cerca de 180 quilos, custa US$ 2.500 e, desmontada, cabe em um caixote de um metro por dois.
Os clientes da empresa vêm usando as estruturas como salas de trabalho, abrigos de caçadores e abrigos para pesca no gelo, mas a HabiHut enxerga outros mercados possíveis: o Terceiro Mundo, pessoas desabrigadas em regiões que sofreram catástrofes, populações de sem-teto. As casinhas pré-fabricadas já estão em uso no Quênia e no Haiti e estão sendo testadas para uso como estações de água.
A HabiHut espera construir uma comunidade para pessoas deslocadas pela violência em Gilgil, Quênia.
Seria um povoado de casinhas HabiHut, com água, esgoto, estações de recarga de celulares e uma antena de satélite. "É tudo o que se precisa", disse Sean Weas, da HabiHut.
Abrigos protetores autocontidos, em que tudo se encontra em um só espaço, podem vir a ser o futuro da habitação, embora possivelmente em escala maior. Masamichi Katayama, o designer cult japonês que criou espaços para a Godiva, Nike e Uniqlo no Midtown de Manhattan, disse ao "Times": "Eu gostaria de criar um edifício que incluísse todas as instalações possíveis, como um hospital, uma escola, um hotel, lojas varejistas -para criar uma cidade dentro de um edifício."

ANITA PATIL
Envie comentários para nytweekly@nytimes.com.




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