São Paulo, segunda-feira, 21 de março de 2011

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Diques não foram suficientes para proteger os japoneses

Por NORIMITSU ONISHI
JACARTA, Indonésia - Pelo menos 40% dos 35 mil quilômetros de litoral do Japão são cercados por diques de concreto, barreiras ou outras estruturas destinadas a proteger o país contra grandes ondas, furacões ou tsunamis. Eles fazem parte da paisagem costeira do Japão tanto quanto as praias ou os barcos de pesca, especialmente em áreas onde o governo estima em mais de 90% a possibilidade de um grande terremoto nos próximos 30 anos, como na região norte que foi devastada pelo terremoto e tsunami em 11 de março.
Juntamente com o desenvolvimento de prédios resistentes a abalos, a infraestrutura costeira representa a maior iniciativa do Japão no pós-guerra contra terremotos e tsunamis. Mas, enquanto especialistas elogiaram os rigorosos códigos de construção do Japão e os edifícios resistentes a abalos, por limitarem o número de baixas em terremotos, a devastação e o número de vítimas nas áreas costeiras poderão levar o país a reprojetar seus diques -ou reconsiderar sua grande dependência deles.
Os riscos de dependência de diques ficaram mais evidentes nesta crise nas usinas nucleares de Daiichi e Daini, ambas localizadas na costa próxima à zona do terremoto. O tsunami que se seguiu ao abalo passou sobre os diques que deveriam proteger as usinas, inutilizando os geradores a diesel cruciais para manter a energia dos sistemas de resfriamento dos reatores durante panes.
Peter Yanev, um conhecido consultor em usinas nucleares projetadas para suportar terremotos, disse que os diques nas usinas japonesas provavelmente não conseguiram suportar as ondas da altura que os atingiram. E os geradores a diesel estavam situados em um ponto baixo, supondo que os muros fossem altos o suficiente.
Esse foi um erro de cálculo fatal. Os muros antitsunâmi deveriam ter sido construídos mais altos, disse, ou os geradores deveriam ser colocados em terreno mais elevado para suportar potenciais inundações. "O custo é ínfimo, comparado com o que está acontecendo", ele disse.
Alguns críticos afirmam há muito tempo que a construção de diques é uma tentativa arrogante de controlar a natureza e um desperdício de dinheiro em obras públicas que o governo japonês usou para recompensar empresas politicamente conectadas ou para tentar reavivar a economia estagnada. Os apoiadores disseram que os diques aumentaram as probabilidades de sobrevivência.
As ondas simplesmente transbordaram os diques, alguns dos quais desmoronaram. Mesmo nas cidades de Ofunato e Kamaishi, com diques construídos especificamente para suportar tsunâmis, a onda gigante esmagou os muros.
Em Kamaishi, ondas de quatro metros superaram o muro -o maior do mundo, com uma profundidade de 64 metros- e submergiram o centro da cidade.
"Isto vai nos obrigar a repensar nossa estratégia", disse Yoshiaki Kawata, um especialista em gestão de desastres na Universidade Kansai em Osaka e diretor de um centro de prevenção de desastres em Kobe.
Gerald Galloway, um professor de pesquisa de engenharia na Universidade de Maryland, disse que um problema das barreiras físicas é que elas podem criar uma sensação de complacência. "Existem desafios em dizer às pessoas que elas estão seguras" quando os riscos permanecem, ele disse.
Qualquer coisa que os humanos construam, a natureza tem uma maneira de superá-las. Galloway notou que alguns diques do Japão, que podem chegar a 12 metros de altura, mas variam de um lugar para outro, eram simplesmente muito baixos para a onda.
Os críticos no Japão dizem que não importa a altura dos diques, um dia haverá uma onda maior. Mas para alguns especialistas os diques podem ter tido um papel útil nesta crise.
"Desta vez, quase todo mundo tentou fugir, mas muitos não conseguiram", disse Shigeo Takahashi, um pesquisador do centro Ásia- Pacífico de Pesquisa de Desastres Costeiros em Yokosuka. "Mas por causa dos diques que retardaram a chegada das ondas mesmo que só um pouco, muitas pessoas que não teriam sobrevivido provavelmente conseguiram escapar. Apenas um ou dois minutos fazem uma enorme diferença."


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