São Paulo, segunda-feira, 21 de março de 2011

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PERFIS

JULES KROLL

De espião famoso a supervisor nos EUA

Por JANET MORRISSEY
Poucas pessoas conseguem penetrar o lado escuro do dinheiro, mas Jules Kroll é uma delas. Fortunas saqueadas, resgates pagos, acordos fechados -a revelação desses segredos, e um milhão de confidências que são sua história, fizeram de Kroll um homem rico.
Foi há quase 40 anos, quando praticamente inventou o negócio conhecido como inteligência corporativa, que ele chamou a atenção, pela primeira vez, dos conselhos administrativos maliciosos. Em uma época em que "detetive particular" ainda despertava imagens de maridos traidores e hotéis baratos, Kroll construiu uma espécie de CIA privativa e virou corporação. Se uma empresa da "Fortune 500" ou uma grande casa de investimentos quisesse sujeira, contratava a Kroll Inc. para desenterrá-la.
É por isso que seu último empreendimento parece tão incomum e, no entanto, tão... Kroll. Aos 69 anos, ele está entrando no negócio de classificação de crédito.
Você poderia se perguntar por que alguém ainda presta atenção nas notas de crédito. Afinal, a crise financeira de 2008 e 2009 expôs os conflitos que há no centro do jogo de classificações. O mundo soube que os três serviços principais -Moody's, Standard & Poor's e Fitch- haviam dado notas sólidas para investimentos em hipotecas que vieram a valer quase nada. Foi uma lição que quase derrubou o sistema financeiro.
As agências de classificação parecem os facilitadores de Wall Street. O que Jules Kroll está pensando?
Esse é o homem que o governo haitiano contratou para rastrear ativos financeiros ligados a Jean-Claude Duvalier. O homem que o Kuwait contratou para arrancar a riqueza do petróleo de Saddam Hussein. Um dos casos de Kroll, envolvendo sequestro, inspirou o filme "Prova de Vida", e há planos para que Scott Rudin, o produtor de "A Rede Social", faça um piloto para uma série de TV baseada em suas façanhas.
Kroll diz que se ele pode fazer tudo isso também pode chegar ao fundo de um título de investimento. Ele e seu filho Jeremy, 39, estão apostando o nome da família em uma empreitada chamada Kroll Bond Ratings [Classificação de títulos Kroll]. Eles dizem que o negócio vai somar a análise de crédito realista com sua investigação corporativa marca registrada.
A questão pertinente, para Kroll, é por que alguém deveria escutá-lo sobre o assunto. Apesar de toda a sua conversa sobre sacudir essa indústria, Kroll está aderindo ao status quo. Assim como a Moody's, S.& P. e Fitch, a Kroll Bond Ratings será paga pelos emissores, como as três grandes.
Alguns se perguntam se Kroll está fora de sintonia desta vez. Mas ele está pensando grande -como sempre.
Quer pegar 10% dessa indústria de US$ 4 bilhões por ano dentro de cinco anos.
Ao longo do tempo, Kroll ajudou a garantir a libertação de cerca de 185 outras vítimas de sequestro.
Ele aprecia sua imagem de inconformista. Em 2005, por exemplo, pagou US$ 27 mil em um leilão de caridade por uma "ponta" na série de TV "CSI: New York". Ele desistiu do papel para que um amigo pudesse levantar mais dinheiro para outra entidade.
Kroll nunca se encaixou totalmente no molde corporativo. Ele vendeu a Kroll Inc. em 2004 para Marsh & McLennan, a gigante corretora de seguros, por US$ 1,9 bilhão em dinheiro e embolsou cerca de US$ 117 milhões.
Kroll adora uma boa história. A estante de livros em seu escritório no centro de Manhattan está cheia de títulos que falam sobre uma vida avaliando riscos -"Ameaça perto de casa: Hugo Chávez e a guerra contra os EUA" e "Sobrevivendo e prosperando na incerteza: Criando a empresa inteligente para riscos."
Mas Kroll tem suas próprias histórias. Como em 2003 quando Edward S. Lampert, o administrador bilionário de fundos de investimentos que controla a Sears, foi sequestrado na Costa do Ouro de Connecticut. Kroll foi trazido para ajudar o FBI e indicou que alguém -por acaso, um dos sequestradores- estava usando um cartão de crédito de Lampert para comprar pizza (mais tarde, ele foi libertado ileso).
"Esses caras eram verdadeiros gênios", disse Kroll secamente.


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