São Paulo, segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Texto Anterior | Índice

Cientistas estudam novas formas de salvar espécies em risco

Por ANNE RAVER

CHICAGO — A espécie de cardo conhecida como “Pitcher’s thistle” (Cirsium pitcheri), cujas folhas peludas e flores cor-de-rosa no passado cresciam nas dunas de areia às margens de vários dos Grandes Lagos (EUA), foi virtualmente extinta há décadas das margens do lago Michigan, devido ao desenvolvimento urbano, à seca e aos gorgulhos.
Na década de 1990, porém, sementes coletadas em pontos diferentes do habitat do cardo foram cultivadas no Jardim Botânico de Chicago e plantadas, com a ajuda do Horto Florestal Morton, ao longo do lago, no Parque Praieiro do Estado do Illinois, ao norte de Chicago. As plantas que vieram das dunas do Indiana, no sul, estão crescendo bem; as que vieram do norte estão definhando.
Tendo em mente esses resultados desiguais, cientistas do jardim botânico estão enviando equipes pelo oeste americano, para coletar sementes de diferentes populações de 1.500 espécies vegetais das pradarias até 2010 e de 3.000 espécies até 2020.
A meta é preservar as espécies e, dependendo das mudanças climáticas, ajudar espécies que geralmente crescem em proximidade a migrar para novas regiões. “Dentro de 50 ou cem anos, pelo fato de o habitat e os climas estarem tão alterados, é possível que tentemos transferir espécies em um contexto de restauração”, disse Pati Vitt, cientista da conservação do jardim botânico.
O jardim está buscando autorizações para testar o conceito com o cardo, levando-o a território novo, mais frio, nas margens do lago Ontario. “Esse pode ser o melhor teste de transferência de uma espécie individual para fora de seu habitat normal”, disse Vitt.
Mas a migração assistida, como é chamada, é uma questão polêmica. De um lado há aqueles como os cientistas do jardim botânico, que argumentam que é melhor correr os riscos que não fazer nada. “Reconhecemos que as mudanças climáticas provavelmente serão muito rápidas e que as sementes, na natureza, só se dispersam algumas centenas de metros”, disse Kayri Havens, diretora de ciência de plantas e conservação do jardim botânico. “Se quisermos conservar vivas essas espécies, elas precisarão de nossa ajuda.”
Outros cientistas argumentam que mexer com a complexidade dos habitats é cortejar um desastre, além de implicar em uma despesa enorme. “Mesmo com nossos melhores recursos científicos, não sabemos prever com precisão quais espécies serão invasivas”, disse Jason S. McLachlan, biólogo da Universidade Notre Dame, no Indiana, que estudou a difusão populacional pós-glacial. “E isso será especialmente complexo à medida que o clima passar por modificações.”
A faia americana, por exemplo, era tão rara na era glacial que raramente é encontrada em fósseis. “Ela poderia ter sido uma das espécies raras e incomuns cogitadas para serem salvas com a migração assistida”, disse McLachlan. Hoje, disse ele, a faia é tão abundante nas florestas do leste dos EUA que está tirando espaço “das demais espécies”.
Enquanto a discussão continua, os cientistas do jardim botânico estão ampliando a coleção de sementes e avaliando a adaptabilidade de diferentes espécies. Vitt e Havens recentemente exibiram o novo Centro de Ciência do Arroz, que possui laboratórios e um banco de sementes de 39 m2. “É o mais importante trabalho de conservação que o jardim botânico poderia estar fazendo”, contou Vitt.


Texto Anterior: Erro canino ajuda a punir inocentes
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.