São Paulo, segunda-feira, 22 de agosto de 2011

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As alegrias e os sustos de realizar um sonho

Por ALEX WILLIAMS

Até dois anos atrás, Mary Lee Herrington, 32, de St. Louis, trabalhou em um grande escritório de advocacia em Londres. Ela deixou o emprego em que ganhava US$ 250 mil por ano e trabalhava 60 horas por semana para se tornar uma organizadora de casamentos. Esse era seu plano B: a chance de viver sua paixão.
Mas sempre que uma data de casamento se aproximava, ela se via trabalhando 17 horas por dia. Em um evento, "quando dividi os honorários pelo número de horas, vi que ganhei cerca de 1 libra por hora", disse Herrington (seus honorários como advogada eram de US$ 450 ou cerca de 274 libras por hora).
Quando você é o patrão, o dia de trabalho nunca termina. Desde o início da Grande Recessão, mais americanos abriram empresas (565 mil por mês em 2010) do que em qualquer período dos últimos 15 anos, segundo a Fundação Kauffman, que acompanha estatísticas sobre empreendedorismo.
As atrações são óbvias: liberdade, realização. Mas trabalhar por conta própria tem suas armadilhas: um período de intenso aprendizado, nenhuma segurança, exaustão física e crises emocionais. O emprego dos sonhos é um "emprego", tanto quanto um "sonho".
"A realidade é que mesmo nos bons tempos a maioria das novas empresas fracassa", disse Paul Bernard, um treinador de executivos em Nova York que assessora profissionais na abertura de pequenas empresas.
Rona Economou era advogada em um grande escritório de advocacia de Manhattan quando foi demitida em 2009. Seis meses depois, ela abriu a Boubouki, uma pequena barraca de comida grega no Mercado da Essex Street em Nova York. Pensou que teria uma vida profissional mais tranquila, mas, em vez disso, Economou, com 33 anos, se encontra em marcha acelerada.
Seis dias por semana, ela acorda às 5h30 para assar pães e, de vez em quando, corta o dedo. Nas segundas-feiras, quando não abre a loja, faz a contabilidade.
Muitos se surpreendem ao ver que os horários e o trabalho são extenuantes. Charan Sachar, 37, um ex-engenheiro de software que vive perto de Seattle, costumava sonhar com criar pratos de cerâmica de inspiração indiana.
Em janeiro, ele se demitiu para se dedicar a sua loja on-line, Creative With Clay, que vende suas peças. Hoje, ele não é apenas seu próprio patrão, como seu contador, diretor de vendas, gerente de marketing e empacotador. "Em alguns dias, não faço nada no ateliê, principalmente porque estou fazendo todas as outras coisas", ele disse.
Para alguns, as armadilhas podem ser tão traiçoeiras que o emprego dos sonhos se torna um pesadelo. Anne-Laure Vibert, 31, abandonou um emprego em marketing em Nova York, planejando festas glamourosas para o relojoeiro Audemars Piguet, para se tornar uma fabricante de chocolates.
Alguns anos atrás, ela se mudou para Paris para ser aprendiz de um mestre chocolateiro. Viu-se embalando chocolates e lavando panelas. Quando não estava fazendo isso, lavava o piso, embrulhava presentes, atendia o telefone ou enviava encomendas.
Quatro meses depois, ela se demitiu. Seu plano C? Ela voltou para NY e conseguiu um emprego com seu antigo patrão. "Fiquei solitária para ser franca", ela disse.
No ano passado, Matthew Kang, 26, um ex-analista de banco em Los Angeles, deixou o emprego prestigioso para abrir a sorveteria Scoops Westside. "Às vezes, me sinto um zelador", ele disse.
Pelo menos, os zeladores têm um contracheque confiável. O plano B, muitas vezes, significa insegurança financeira. E, mesmo quando os negócios vão bem, os sacrifícios nunca estão longe. Ser seu próprio patrão vale perder os benefícios médicos, a cota de gasolina e as férias pagas?
AnnaBelle LaRoque, 28, uma ex-representante farmacêutica em Columbia, Carolina do Sul, ainda tem dúvidas. "Houve muitas vezes em que comi mingau de aveia no jantar, pensando nessas questões", disse LaRoque, que desistiu de seus benefícios profissionais para criar uma linha de roupas homônima.
Às vezes, manter um sonho vivo também significa arranjar um segundo emprego. Antes que Mary Lee Herrington tivesse sucesso, ela conseguiu um emprego de meio período na Escola de Economia de Londres, coordenando um programa de aconselhamento, que pagava US$ 18 por hora.
Para alguns dos que trocam de profissão, os desafios mais duros não são financeiros ou físicos, mas emocionais. Deixar para trás a segurança do colarinho-branco pode significar perder sua identidade como provedor.
Depois de ser demitida do emprego de coordenadora de relações com a mídia de um spa de luxo, Jackie Alpers, 43, de Tucson, no Arizona, começou a trabalhar como fotógrafa de alimentos para livros e revistas de culinária. Ela adora a criatividade, mas teme a possibilidade de não conseguir cumprir o compromisso de manter a casa junto com o marido.
Mas quase todos os entrevistados disseram que, apesar dos percalços imprevistos, não trocariam suas novas vidas pelos antigos empregos. "Eu não ando mais com uma ligeira corcunda de deprimida", disse Herrington, que hoje tem trabalho constante e ótimas resenhas em blogs de casamento.
Alpers disse que o trabalho duro e a ansiedade estão começando a recompensar, dos pontos de vista criativo e financeiro. "Apesar de eu detestar assumir a responsabilidade sozinha e ficar enlouquecida", ela disse, "o momento em que seguro um livro que terminei compensa toda a incerteza que senti para chegar lá."


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