São Paulo, segunda-feira, 22 de agosto de 2011

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No Azerbaijão, o povo paga o preço do desenvolvimento

Transformação da antes descuidada Baku gera despejos

Por AMANDA ERICKSON

BAKU, Azerbaijão - Antes de as notificações começarem a chegar, Eldostu Elman tinha uma ideia bastante clara de como sua vida se desenrolaria, pelo menos em termos de moradia. Ele viveria no apartamento onde foi criado, junto com os pais, os filhos e, quando os últimos casassem, as suas famílias.
Mas as cartas de despejo começaram a chegar, seguidas por visitas de policiais que exigiam que Elman e seus vizinhos se mudassem. Se o governo prevalecer, o apartamento de Elman logo será reduzido a escombros.
Um boom na construção civil está transformando Baku, antes uma descuidada cidade pós-soviética, em uma metrópole reluzente, repleta de arranha-céus e de parques de mármore. Mas o desenvolvimento tem um custo. Famílias que vivem aqui há gerações estão sendo expulsas dos seus bairros. Algumas foram retiradas à força pela polícia; em outros casos, as demolições começaram enquanto os recalcitrantes permaneciam em seus apartamentos, segundo um recente relatório da ONG Human Rights Watch.
"Quando escuto barulho de construção, fico com medo", afirmou Elman. "Querem me transformar em sem-teto."
O Azerbaijão era uma das repúblicas mais pobres da União Soviética. Graças ao oleoduto Baku-Tbilisi-Ceyhan, o dinheiro está fluindo. Em dez anos, o produto interno bruto deste país do Cáucaso triplicou, atingindo cerca de US$ 52 bilhões, de acordo com o Departamento de Estado americano.
Tanta riqueza levou o governo a iniciar uma reforma que abrange toda a capital. No lugar de lojinhas e de prédios de apartamentos baixos, de concreto, empresas internacionais estão sendo chamadas para erguer arranha-céus, lojas de departamentos e hotéis luxuosos.
Fala-se até mesmo na criação de uma ilha no mar Cáspio, ao estilo de Dubai, que seria acessível por uma passarela decorada com obras dos artistas Jeff Koons e Anish Kapoor, além de um museu de arte projetado por Frank Gehry.
Famílias como a de Elman estão excluídas desses planos.
Ganhando menos de US$ 250 por mês como professor, Elman não poderia se dar ao luxo de morar na cidade se não tivesse apartamento próprio. Ele diz que o governo lhe ofereceu cerca de US$ 100 mil pelo imóvel, mas isso nem de longe é suficiente para comprar por aqui outro apartamento com espaço para a sua família de nove pessoas.
Segundo a Human Rights Watch, centenas de proprietários perderam seus imóveis no centro de Baku nos últimos dois anos. Até o momento, o governo se nega a responder aos críticos.
Os moradores não estão recebendo indenizações justas por seus imóveis. O governo paga o equivalente a US$ 2.270 por metro quadrado, enquanto o valor de mercado seria em torno de US$ 5.980, diz a Human Rights Watch.
Em um país rigidamente controlado, pessoas têm poucos ou nenhum meio de combater os despejos. Afak Adil Qizi, 52, disse que não vai deixar o apartamento que divide com sua família. "Vou ficar aqui até o final", disse. "Vou morrer aqui. As escavadeiras vão ter de me empurrar para fora."


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