São Paulo, segunda-feira, 22 de novembro de 2010

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BUIKA

Chega o momento da cantora

"Não sei muito sobre estilos ou gêneros. Só conheço notas e acordes. Não tenho preferências"

Por LARRY ROHTER
Buika portava um passaporte espanhol quando chegou para a sua primeira turnê prolongada na América do Norte. Mas sua música abrange tamanha gama de influências que ela parece simultaneamente vir de todos os lugares e de lugar algum.
"Sou a consequência de um tipo particular de movimento demográfico, que sempre envolveu pagar um preço alto", disse Buika. "Mas não sei muito sobre estilos e gêneros. Só conheço notas e acordes. Não tenho preferências, mesmo."
Concha Buika, esse é seu nome completo, admite que sua ascensão foi árdua. Há dez anos, trabalhava como mera imitadora de Tina Turner em cassinos de Las Vegas. Agora, seu mais recente CD, "El Último Trago", recebeu o Grammy de Melhor Álbum Tropical, ela, em breve, estará num filme de Pedro Almodóvar e já colaborou em gravações com a vocalista luso-canadense Nelly Furtado e com o cantor pop anglo-brasilo-nigeriano Seal.
Buika, 38, nasceu na ilha espanhola de Mallorca, onde seus pais se radicaram após fugirem da Guiné Equatorial, e ela cresceu ouvindo sua mãe cantar músicas folclóricas guineenses.
Buika andou com os ciganos locais e absorveu deles a paixão pelo flamenco e pela tradição do "cante jondo" (canto profundo). "Eu me identifiquei com a solidão deles", explicou, falando espanhol com um sotaque próximo ao de Castela, "porque éramos a única família negra da ilha, e eu era a única criança negra".
Mas a música americana também a fascinava, tanto o jazz quanto o pop. Ela cita Bonnie Raitt, Billie Holiday e Nina Simone como influências.
"O que Buika faz é beber de muitas fontes", diz o produtor musical e compositor espanhol Javier Limón, que trabalhou com Buika em três bem-sucedidos álbuns. "Mas, embora cante jazz e tenha raízes africanas, é claramente espanhola na forma como sente a música e a vida."
Entre os admiradores mais fervorosos de Buika em seu país natal está Almodóvar, diretor de filmes como "Mulheres à Beira de Um Ataque de Nervos" ou "Tudo Sobre Minha Mãe". Ele não só criou um par de interlúdios em seu próximo filme, "La Piel Que Habito" (a pele que eu habito), para que ela cante, como também escreveu a respeito dela em seu blog.
"Buika pertence a uma estirpe de artista que só aparece muito de vez em quando", declarou Almodóvar, antes de colocá-la na mesma categoria de Edith Piaf e Judy Garland. "Sua voz tem uma cor inusitada e uma tessitura amplíssima, dotada para a carícia mais íntima e para o alarido estrondoso. Buika só sabe cantar com o coração destroçado."
A ideia para "El Último Trago" também partiu de Almodóvar, segundo ela. Buika havia apresentado uma versão de "Se Me Hizo Fácil" (ficou fácil para mim), uma canção associada à lendária cantora mexicana de "rancheras" Chavela Vargas, para uma cena no filme dele, e ele pediu a Buika que gravasse um CD inteiro com canções do repertório de Chavela.
Buika respondeu com entusiasmo, embora seu contato inicial com Chavela, hoje com 91 anos, tenha machucado o seu ego. Numa turnê pelo México anos atrás, a cantora conheceu Chavela, que, conforme conta Buika, disse, "Cante-me algo, menina" e, em seguida, a interrompeu de forma incisiva: "Pare, pare, você não está preparada".
No ano passado, Buika gravou "El Último Trago" em Havana com um pequeno conjunto de jazz que incluía a participação do pianista cubano Chucho Valdés. Chavela disse ter aprovado animadamente o resultado.
"Ela ainda é jovem e tem muito o que aprender, mas penso que tem futuro, tanto na música quanto no cinema", afirmou Chavela.
Em sua turnê pela América do Norte, que terminou na semana passada, Buika buscou uma audiência diversificada. Mas o futuro no cinema, tal qual antevisto por Chavela, parece não lhe interessar muito. "Custou-me muito me tornar eu mesma", disse Buika. "Não quero ser outra pessoa."


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