São Paulo, segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

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LENTE

Abandonando os velhos hábitos

O avião em que você viaja cai com um estrondo apavorante. Milagrosamente, porém, você consegue escapar dos destroços em chamas. Em estado de choque e profundamente grato por estar vivo, você promete fazer mudanças em sua vida. Diz que vai abandonar o cigarro. Passará mais tempo com a família. Dedicará o resto de sua vida à defesa da paz no mundo.
Pouco tempo depois, você se vê vivendo mais ou menos como sempre viveu.
Mesmo um trauma forte nem sempre é o suficiente para motivar mudanças duradouras nas pessoas, escreveu Michael Wilson no "New York Times". Ele citou o caso de Mike Wilson (sem parentesco), um "workaholic" que, depois de sobreviver a um acidente aéreo em Denver, jurara passar mais tempo com sua mulher.
"Logo depois do acidente, aquilo era a primeira prioridade para mim", contou. "Mas depois a realidade se reafirmou. Acho que é muito fácil, na verdade, recair nos hábitos antigos."
Como neurocientistas já constataram, velhos hábitos ficam fisicamente gravados no cérebro; as sinapses se fixam em caminhos neurais quase permanentes. Mas, com ou sem calcificação dos padrões cerebrais, outros artigos publicados no "New York Times" revelam que, em diferentes graus, a capacidade humana de mudar ainda surpreende.
Às vezes, basta um sorriso.
Algumas empresas de eletricidade nos EUA descobriram uma maneira simples de combater a tendência ao desperdício de energia. O acréscimo de carinhas sorridentes ou carrancudas às contas de luz faz os consumidores tomarem consciência de seu consumo de eletricidade. As contas comparam o consumo energético de cada pessoa ao de seus vizinhos.
"É algo fundamental e primitivo", disse Robert Cialdini, psicólogo social da Universidade Arizona State. "A simples percepção do comportamento normal daqueles que nos cercam é muito poderosa."
O governo dos EUA gastou bilhões de dólares para tentar mudar percepções no Oriente Médio, às vezes sem sucesso. Mas uma das ferramentas menos custosas vem se mostrando a mais eficaz, escreveu Michael Slackman no "New York Times". Ensinar inglês a adolescentes egípcios pode fazer muito para mudar atitudes.
"Tudo na minha vida mudou", disse a estudante Manal Ade Ahmed, 16, de Asiut, reduto de extremismo islâmico no Egito. Antes de estudar inglês, ela contou, "tinha medo de me relacionar com qualquer pessoa diferente. Agora acho importante conhecer outros povos e outras culturas."
Mudanças positivas também podem vir de fontes surpreendentemente pequenas.
Richard Thaler e Cass R. Sunstein, autores do livro "Nudge - O Empurrão Para a Escolha Certa", são especialistas em economia comportamental. Eles advogam sugestões gentis, ou "pequenos empurrões", para ajudar as pessoas a fazer escolhas melhores em alimentação, segurança e finanças, talvez sem nem sequer perceberem que foram influenciadas.
O exemplo favorito de Thaler envolve imagens de moscas gravadas em mictórios no aeroporto de Amsterdã. "Homens, evidentemente, gostam de mirar em alvos", disse Thaler, porque, depois do acréscimo das figuras de moscas, os respingos no chão do banheiro masculino caíram 80% (as autoridades do aeroporto não explicaram como foi feita a medição).
As moscas, disse Thaler, "atraem a atenção das pessoas e modificam seu comportamento de maneira positiva, sem de fato exigir que façam algo".
Pode não ser algo tão importante quanto a paz no Oriente Médio ou a independência energética, mas banheiros mais limpos não deixam de ser um bom começo. E são uma mudança em que todos nós podemos acreditar.


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