São Paulo, segunda-feira, 23 de agosto de 2010

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Kuaitianos mergulham para se reconectar com seu passado

Por KAREEM FAHIM

AL KUAIT - Todos os anos desde 1986, na fornalha escaldante do verão do Kuait, jovens embarcam em "dhows" de madeira e navegam quase 100 quilômetros até os bancos de ostras, em uma caçada de dez dias por pérolas que já foram o pilar da economia da região.
Os jovens representam a esperança de que, em um país transformado pelo petróleo -uma terra de shopping centers imensos, carros de luxo e vidas subsidiadas, onde a cidadania há muito tempo é um ingresso para o privilégio-, ainda há espaço para algo antigo e trabalhoso.
Mas as viagens também comemoram a história das famílias mais destacadas do país, lembrando o tempo em que eram mercadores que ganhavam a vida no mar.
Em um sábado recente, cerca de 200 rapazes estavam sentados em 15 "dhows" no fim da jornada, mostrando sua exaustão, mas aproveitando os últimos momentos juntos.
"Nós dormimos ao ar livre e cozinhamos para comer", disse Aqeel Ashkanani, 26. "Não pensei que fosse tão duro." Os barcos voltaram para o Clube de Esportes Marinhos do Kuait, onde parentes dos jovens mergulhadores estavam reunidos na areia para recebê-los. A televisão local transmitia as celebrações ao vivo.
"Esta é a nossa tradição. Precisamos salvá-la", afirmou Ashkanani.
O evento é popular em parte porque testa os jovens, que os kuaitianos mais velhos temem que estejam ficando indolentes. "A descoberta do petróleo estragou toda uma geração", disse o escritor Saad al Ajmi, ex-ministro da Informação do Kuait. "Eles [jovens] não fazem serviços menores. A pesca de pérolas era uma profissão dura e difícil."
O evento, segundo estudiosos, revê a história dos kuaitianos considerados a classe de "colonos" fundadores, mercadores ou donos de navios que controlavam a pesca de pérolas e outros negócios.
O comércio, praticado por todo o golfo Pérsico, foi prejudicado pela Grande Depressão, o surgimento de pérolas cultivadas no Japão e a descoberta de petróleo.
Os mergulhadores eram provavelmente empregados temporários, segundo pessoas que estudaram esse negócio, e viviam de dinheiro emprestado pelos capitães dos barcos.
O trabalho ainda é muito difícil. Depois que a viagem terminou -produzindo cerca de 600 pérolas- Fahad al Hamad, 16, disse que sua vida havia mudado. A viagem rompeu sua rotina habitual de passar o verão à toa em chalés ou cafés.
"Você precisa contar consigo mesmo", ele disse. "Existem regras no mar."


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