São Paulo, segunda-feira, 23 de agosto de 2010

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Decanos do pessimismo econômico ganham em estatura

Por LANDON THOMAS Jr.

LONDRES - A questão central que divide os economistas hoje em dia é se os governos ocidentais deveriam gastar mais para evitar uma segunda recessão, ou recuar para controlar suas dívidas e restaurar a confiança entre os investidores.
Mas Albert Edwards, um estrategista de investimentos na filial londrina do banco francês Société Générale, considera esse debate uma perda de tempo.
Ele prevê uma "recessão sangrenta e profunda", que pode levar a um colapso de pelo menos 60% no mercado de ações, seguida por anos de inflação na casa de 20% a 30%, enquanto os Bancos Centrais imprimem dinheiro desesperadamente.
Ouvir os pessimistas está na moda, especialmente agora que permanecem as dúvidas sobre a sustentabilidade da zona do euro e aumentam as preocupações de que os EUA reincidam na recessão e que a máquina chinesa de crescimento possa parar.
As sandálias e o ar risonho de Edwards camuflam sua reputação na City londrina como um dos mais conhecidos "pessimistas permanentes" -um tipo que tradicionalmente aparecia nas margens do setor financeiro, mas raramente dentro dos principais bancos.
Isso não é mais verdade.
Com a chocante crise financeira de 2008 ainda fresca na cabeça das pessoas, até mesmo pessimistas históricos, como Edwards -que desde 1997 prevê para os EUA uma retração das Bolsas similar à do Japão-, passaram a ser tratados com um renovado respeito.
Mas, para alguns, a popularização de previsões extremamente sombrias sugere que o pêndulo talvez tenha oscilado demais.
"Nada mais é ridículo", disse Philippe Jabre, executivo de um fundo de hedge em Genebra. "Não há dúvida de que hoje em dia pesquisas extremamente negativas estão sendo mais toleradas. Esses caras estão reforçando a convicção entre muitos que investem em fundos de hedge de que eles devem continuar assustados."
Bob Janjuah, único estrategista de Londres cujos prognósticos são considerados ainda mais sombrios que os de Edwards -"Até eu fico deprimido lendo as coisas dele", comentou Edwards-, disse ter sido cortejado por meia dúzia de bancos de investimentos nos últimos meses, até decidir-se por trocar o Royal Bank of Scotland pelo Nomura.
"Os clientes estão mais receptivos a ouvir as pontas polares de uma visão de investimento", disse Janjuah, que prevê um crescimento econômico anual médio um pouco acima de 1% para os principais países desenvolvidos nos próximos cinco anos.
Raoul Pal, ex-gestor de um fundo de hedge e ex-especialista em derivativos do Goldman Sachs, tem atraído cada vez mais seguidores para seu relatório mensal, no qual recentemente previu uma depressão nos EUA semelhante à da década de 1930, culminando com a quebra do Reino Unido.
Pal escreve o seu "The Global Macro Investor" num balneário da região espanhola de Valência. Ele disse ter uma grande demanda pelas custosas assinaturas anuais.
Segundo ele, mais de 30% da clientela consiste em gestores de fortunas familiares, com carteiras superiores a US$ 200 milhões. "Eles são facilmente os mais pessimistas dos meus assinantes, porque investem no longo prazo", afirmou Pal, "e, no longo prazo, eles veem mais incertezas do que nunca".
De acordo com a empresa de pesquisas TrimTabs, os fundos de hedge retiraram em abril US$ 3,5 bilhões, e consultores do setor dizem que muitos fundos foram surpreendidos pela corrida do mercado. "Cadê o relatório me dizendo como seria o lucro da Intel?", disse Jabre. "Não vi."
Na verdade, se os investidores tivessem seguido os conselhos de Edwards e Pal quando as Bolsas se recuperaram, teriam perdido dinheiro, como ambos prontamente admitem.
A grande aposta de Pal é que a economia dos EUA não só está prestes a recair na recessão, como também ela será bem pior do que qualquer um com menos de 70 anos já vivenciou.
Ele cita a pífia recuperação dos gastos industriais e do consumo em relação ao mergulho de 2008, sugerindo que as empresas e as pessoas vão continuar relutantes em contrair empréstimos e gastar.
"Nunca antes entramos numa recessão com desemprego de 10%", escreveu ele em seu relatório de agosto. "E, se você levar em conta que na média uma recessão aumenta o desemprego em 3 a 5 pontos percentuais, então poderemos ver um desemprego de 15% nos EUA -isso é assustador."
Mas Ed Yardeni, estrategista independente nos EUA, diz que seria um erro apostar contra as evidências de fortes lucros corporativos, que ele aponta como os motores de uma recuperação global. "Apesar de todo esse viés negativo", disse ele, "temos visto um das melhores recuperações corporativas da história".


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