São Paulo, segunda-feira, 23 de agosto de 2010

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Pragmatismo ainda une Turquia e Israel

Por DAN BILEFSKY

ISTAMBUL - Executivos israelenses na Turquia gostam de lembrar que a maioria dos turcos que protestaram contra o ataque israelense a navios da Turquia na costa de Gaza não sabe que seus celulares, computadores e TVs de plasma são feitos com peças e tecnologia de Tel Aviv.
Para Menashe Carmon, presidente do Conselho Empresarial Israel-Turquia, tal ignorância é uma bênção para ambos os lados. "Os turcos achariam muito difícil boicotar os bens israelenses, porque você não vai encontrá-los nos supermercados turcos", disse.
"A maior parte dos softwares que os turcos usam para tudo, de celulares a equipamentos médicos, é feita em Israel.
Então, a não ser que os turcos desejem parar de usar seus computadores, boicotar Israel significaria punir a si próprios."
Depois do incidente de 31 de maio, em que nove cidadãos turcos morreram, a Turquia exigiu um pedido de desculpas, que ainda não ocorreu. Ancara vetou aviões militares israelenses no seu espaço aéreo, e o premiê turco, que tem raízes políticas islâmicas, disse que o mundo agora enxerga a suástica nazista e a estrela de Davi juntas, segundo o jornal "Hurriyet Daily News".
Já os israelenses, magoados com o menosprezo do ex-aliado, prometeram se manter longe da Turquia. Mas o pragmatismo empresarial está se sobrepondo às tensões políticas.
"Nenhuma empresa israelense está deixando a Turquia", disse Carmon, empreendedor israelense criado em Istambul. "Os negócios estão normais e, no mínimo, o investimento está crescendo."
Em curto prazo, o ataque gerou inevitáveis consequências econômicas. Os cancelamentos generalizados de reservas de férias por israelenses custarão à Turquia cerca de US$ 400 milhões, segundo analistas.
A Turquia, por sua vez, decidiu rever toda a cooperação militar, o que pode privar empresas israelenses de bilhões de dólares em contratos. Oficialmente, o comércio entre os dois países no ano passado foi de US$ 3 bilhões. Mas empresários israelenses e turcos dizem que os vínculos são muito maiores.
Eles acabam camuflados, afirmam eles, porque muitas empresas israelenses usam parceiras turcas para vender ao mundo árabe, enquanto as empresas turcas usam as parceiras israelenses como um acesso aos mercados americanos.
A Turquia foi uma das primeiras nações a reconhecer Israel, logo depois de o país declarar sua existência, em 1948. Os dois forjaram intensas relações militares e comerciais, mas os vínculos diplomáticos se deterioraram nos últimos anos.
Necat Yuksel é gerente de exportações da Naksan Plastik, grande fábrica turca de embalagens plásticas em Gaziantep, no sudeste do país. A empresa importou cerca de US$ 40 milhões em produtos químicos de Israel no ano passado, e Yuksel disse que as encomendas vindas de lá não diminuíram.
Ele contou que seus clientes israelenses agora têm receio de viajar à Turquia, mas que nenhum contrato foi cancelado. Nem a empresa dele arquivou seus planos de montar uma fábrica em Israel.
O executivo citou com orgulho as muitas vantagens de fazer negócios com Israel, inclusive a proximidade geográfica e a mentalidade similar. "Todos os problemas são entre os políticos", disse Yuksel. "Os israelenses, esquentados e teimosos, são iguaizinhos a nós, turcos."
Yuksel, que tem visitado Israel há uma década, afirmou que os executivos israelenses se deixaram influenciar muito mais pelos recentes fatos políticos do que os turcos. "Para nós, tudo se resume aos lucros. Para os israelenses, é emocional."
O influente economista Sinan Ulgen, de Istambul, argumentou que Israel tinha bem mais a perder do que a Turquia com o afastamento. Israel é apenas o 17° maior mercado para as exportações turcas, enquanto a Turquia é o oitavo principal mercado de Israel.
Mas Rifat Bali, um judeu turco que tem escrito bastante sobre as relações bilaterais, contra-argumentou que a crise é mais arriscada para a Turquia, por afetar as suas relações com os Estados Unidos.
A piora nas relações com Israel também coíbe as aspirações de Ancara a ser uma potência regional, por privar a Turquia da sua capacidade de desempenhar um papel mediador.
Ele lembrou que Israel é um dos poucos países dispostos a vender armas à Turquia sem exigir qualquer contrapartida. "Tanto a Turquia quanto Israel", afirmou Bali, "precisam um do outro bem mais do que ambos estão dispostos a admitir".


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