São Paulo, segunda-feira, 23 de novembro de 2009

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CIÊNCIA & TECNOLOGIA

Sol impulsiona nave que pode velejar no espaço

Por DENNIS OVERBYE
Dentro de um ano, se tudo correr bem, uma caixa mais ou menos do tamanho de um pão de forma vai sair de um foguete a cerca de 800 km acima da Terra. Ali, no vácuo, vai desenrolar quatro velas triangulares tão brilhantes quanto o luar e apenas um pouco mais substanciais que este. Então, lentamente, vai se elevar sobre um raio de sol e deslocar-se pelas estrelas.
O LightSail-1, como é chamado, vai, na melhor das hipóteses, velejar por algumas horas e ganhar alguns quilômetros a mais de altitude. Mas essas horas serão um marco histórico para um sonho que é quase tão antigo quanto a própria era dos foguetes: navegar pelo cosmos impelido pelos ventos da luz estelar, do mesmo modo como velejadores navegam pelo oceano impelidos pelos ventos.
"Velejar com a propulsão da luz é a única tecnologia que algum dia poderá nos levar às estrelas", disse Louis Friedman, diretor da Sociedade Planetária, organização mundial de entusiastas do espaço. Friedman anunciou neste mês que, com a ajuda de um doador anônimo, a Sociedade Planetária dará passos pequenos em direção a um futuro digno de ficção científica. Nos próximos três anos, a sociedade vai construir e colocar em voo uma série de naves espaciais batizadas de LightSails, movidas por velas solares, primeiro orbitando a Terra e, mais tarde, aventurando-se mais longe no espaço.
As viagens são frutos de uma colaboração entre a sociedade e a Cosmos Studios, de Nova York, da produtora de cinema Ann Druyan, viúva de Carl Sagan, astrônomo e escritor. Sagan foi um dos fundadores da Sociedade Planetária, em 1980, juntamente com Friedman e Bruce Murray, então diretor do Laboratório de Propulsão a Jato.
Uma longa lista de visionários já apoiou a proposta das velas solares, começando pelos russos Konstantin Tsiolkovsky e Fridrich Tsander, pioneiros dos foguetes, e pelo escritor Arthur C. Clarke. "As velas são uma maneira maravilhosa de deslocar-se pelo universo", disse Freeman Dyson, do Instituto de Estudos Avançados, de Princeton, Nova Jersey. "Mas será preciso muito tempo para imaginá-las virando uma proposta concreta."
A vela solar recebe sua força motriz do simples fato de que a luz carrega não só energia, mas também ímpeto. A força que se faz sentir sobre uma vela solar é suave, ou mesmo fraca, mas, diferentemente de um foguete, que dispara por no máximo alguns minutos, é constante. Ao longo de dias e anos, uma vela que seja suficientemente grande (possivelmente 1,5 km de largura) poderia alcançar velocidades de centenas de milhares de quilômetros por hora, o suficiente para atravessar o sistema solar em cinco anos.
Impelida pelo raio de um laser poderoso, uma vela poderia até mesmo ir até outro sistema solar em cem anos.
Mas Friedman disse que humanos não poderiam velejar para lugares como Marte, porque isso levaria tempo demais e envolveria exposição demais a radiações. Ele disse que -devido à necessidade de manter a nave leve, como uma pipa cósmica- os únicos passageiros de uma viagem interestelar, mesmo após 200 anos de desenvolvimento tecnológico adicional, provavelmente serão robôs ou nossos genomas codificados em um chip.
Em princípio, uma vela solar pode fazer qualquer coisa que faz uma vela comum, como bordejar.
Diferentemente de outras naves espaciais, ela pode usar a pressão solar para contrabalançar a gravidade do Sol e, com isso, flutuar suspensa no espaço. E, é claro, ela não precisa carregar combustível para foguetes.
São visões de longo prazo. "Pense em séculos ou milênios, não em décadas", disse Dyson, que aprovou o projeto da Sociedade Planetária. "Devemos fazer coisas que são românticas", agregou, dizendo que até agora ninguém sabe como fabricar velas suficientemente grandes e finas para permitir viagens longas no espaço.
A vela do LightSail é feita de Mylar aluminizado com a espessura equivalente a mais ou menos 25% da de um saco de lixo. O corpo da nave vai consistir em três satélites em miniatura conhecidos como CubeSats, com 10 cm. Um dos cubos vai transportar equipamentos eletrônicos, e os outros dois carregarão velas dobradas.
Montado como blocos, o aparelho inteiro pesa menos que 5 kg. "O hardware é a parte menor", disse Friedman. "Não dá para gastar muito com um sistema que pesa apenas 5 kg."
As missões LightSail serão lançadas com intervalos aproximados de um ano, começando no final de 2010. A ideia é aproveitar a carona do lançamento de um satélite regular. Friedman disse que o primeiro voo, LightSail-1, terá sucesso se a vela puder ser controlada mesmo que só por uma pequena parte de uma órbita e se mostrar qualquer sinal de ter sido acelerada pela luz solar. "No primeiro voo, qualquer coisa mensurável será fantástica."


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