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Desempregados na Espanha lutam para voltar ao campo
Por SUZANNE DALEY
PUERTO SERRANO, Espanha - Durante a febre do mercado imobiliário na Espanha,
Antonio Rivera Romero trocou alegremente as longas jornadas e o exaustivo
trabalho do campo pelo ofício mais bem regulamentado da construção civil,
ganhando o quádruplo como pedreiro. Fez uma hipoteca e aumentou sua casa, numa
rua pacata de Puerto Serrano, pequena cidade do sul da Espanha.
Agora que os empregos na construção acabaram, as prestações do financiamento
estão atrasadas, e Rivera está ávido por voltar ao trabalho agrícola.
Mas os espanhóis foram, em grande parte, expulsos desses empregos. Os que agora
se curvam diante das fileiras de pés de morango, sob a cobertura de estufas
plásticas, ou sobem escadas debaixo do sol do meio-dia são quase todos romenos,
poloneses e marroquinos, muitos legalmente na Espanha.
"Os fazendeiros aqui não nos querem", lamentou Rivera.
Autoridades locais e sindicalistas concordam com ele. Os fazendeiros relutam em
readmitir trabalhadores espanhóis porque não têm certeza de que eles vão se
empenhar tanto quanto os estrangeiros, que vêm colhendo suas safras, em alguns
casos, já há uma década.
Até agora, apenas 5% dos empregados na colheita deste ano são espanhóis, segundo
Diego Cañamero, presidente do Sindicato dos Trabalhadores do Campo (SOC), um dos
maiores do país.
"Há uma sensação de perplexidade entre os trabalhadores espanhóis", disse. "Eles
falam: 'Por que deixam as pessoas [os imigrantes] andarem 8.000 km, quando nós
precisamos de empregos?'."
O desemprego na Andaluzia é de 27%, o maior da Espanha continental. Os espanhóis
sempre foram resilientes, ajudando-se mutuamente em tempos difíceis.
Mas, hoje em dia, há famílias inteiras desempregadas, como a de Rivera e sua
mulher, que têm cinco filhos em idade produtiva -a maioria em casa. O seguro-
desemprego, para quem tem prestações de casa ou carro, não é nem de longe
suficiente.
Rivera, 50, recebe 420 euros por mês. A prestação da hipoteca consome metade
disso, contou ele. Sua mulher, Encarnación Román Casillas, 49, começou a
frequentar o sopão da cozinha comunitária. "No início, eu não conseguia",
afirmou ela. "Minha cunhada ia no meu lugar. Mas aí fomos juntas, e agora faço o
que eu tenho de fazer."
Além de duas refeições quentes, ela recebe um pão, um litro de leite e quatro
iogurtes.
Em breve os Riveras vão pegar emprestado um carro de um parente e vão à França,
onde esperam acampar enquanto colhem beterrabas, aspargos e alcachofras, e
depois uvas no outono. Eles arrumaram trabalho por lá no ano passado, mas o
custo do acampamento comeu metade dos salários. Desta vez, um fazendeiro francês
aceitou que eles se instalem na propriedade dele.
Rivera não está sozinho em seu drama. Prefeitos de toda a Andaluzia dizem que os
moradores chegam o tempo todo aos seus gabinetes atrás de trabalho. Alguns não
querem empregos rurais, dizendo que são pesados demais. Mas muitos aceitam de
bom grado, conta Emilio Vergara, prefeito de Paterna del Campo, nos arredores de
Huelva.
Junto com três outros prefeitos da região, Vergara iniciou um esforço para
convencer fazendeiros a contratar os locais. Mas, diz ele, de 450 pessoas que se
inscreveram na sua cidade, ninguém recebeu uma oferta de emprego.
"Estou preocupado com uma potencial explosão de xenofobia e espero que ela possa
ser evitada a todo custo, porque a Espanha é tradicionalmente um país
hospitaleiro", disse Vergara.Especialistas dizem que alguns fazendeiros se
aproveitam dos imigrantes. Cañamero afirma que 15 a 20 casos de abusos sérios
são relatados por ano.
Mas, em geral, diz o sindicalista, não é por isso que os fazendeiros recorrem
aos estrangeiros.
Ele diz que a contratação é guiada por uma teia de preconceitos a respeito de
quem são os melhores trabalhadores. Para o trabalho no auge do verão, os
fazendeiros preferem africanos. Para colher morangos, mulheres. "Não está
escrito em lugar nenhum", disse ele. "Seria uma discriminação terrível. Mas é
assim que funciona."
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