São Paulo, segunda-feira, 24 de maio de 2010

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

A ciência por trás de uma união feliz

TARA PARKER-POPE
ENSAIO

Por que alguns homens e mulheres traem os seus parceiros, enquanto outros resistem à tentação?
Para descobrir a resposta, um número crescente de pesquisas explora a ciência dos compromissos afetivos. Os cientistas têm estudado desde os fatores biológicos que parecem influenciar a estabilidade conjugal até a resposta psicológica de uma pessoa após flertar com um desconhecido.
As constatações sugerem que, embora alguns possam ser mais naturalmente resistentes à tentação, homens e mulheres também podem treinar-se para proteger seus relacionamentos.
Estudos recentes despertaram questões sobre a possível influência da genética nos compromissos afetivos e na estabilidade conjugal. Hasse Walum, biólogo do Instituto Karolinska, na Suécia, estudou 552 duplas de gêmeos a fim de aprender mais sobre um gene relacionado à regulagem da vasopressina, um hormônio cerebral.
Os resultados indicam que homens portadores de uma determinada variação do gene tinham menor probabilidade de casar, e que aqueles que portavam o gene e eram casados apresentavam maior probabilidade de enfrentar problemas conjugais.
Ainda que esse traço seja comumente designado como "o gene da fidelidade", Walum diz que a designação não procede: sua pesquisa se concentra na estabilidade conjugal, e não na fidelidade. "É difícil usar esse dado para prever o comportamento futuro dos homens", disse.
Embora possam existir diferenças genéticas que influenciem o grau de compromisso afetivo, outros estudos sugerem que o cérebro pode ser treinado.
Estudos comandados por John Lydon, psicólogo na Universidade McGill, em Montréal, tentam determinar de que maneira pessoas envolvidas em relacionamentos estáveis reagem diante da tentação. Em um dos estudos, homens e mulheres monógamos foram convidados a avaliar o grau de atração de pessoas do sexo oposto, por meio de uma série de fotos. Os resultados não surpreenderam, e as pessoas que seriam tipicamente consideradas atraentes receberam as notas mais altas.
Mais tarde, fotos parecidas foram mostradas aos participantes, e eles foram informados de que a pessoa em questão estava interessada em conhecê-los. Então, os participantes foram unânimes em dar às fotos notas mais baixas do que aquelas que haviam escolhido inicialmente.
"Quanto mais forte o seu compromisso afetivo, disse Lydon, "menos atraentes você considerará as pessoas que ameaçam o seu relacionamento".
Mas talvez não sejam sentimentos de amor e lealdade que mantêm os casais unidos. Os cientistas especulam, em vez disso, que o grau de compromisso possa depender de até que ponto um parceiro melhora sua vida e amplia seus horizontes -conceito que Arthur Aron, psicólogo e pesquisador de relacionamentos na Universidade de Stony Brook, define como "autoexpansão".
Para medir essa qualidade, casais foram submetidos a perguntas: em que medida seu parceiro lhe propicia experiências interessantes? Até que ponto você se tornou uma pessoa melhor depois de conhecê-lo?
Agora, os pesquisadores estão iniciando estudos que tentarão medir de que forma a autoexpansão influencia um relacionamento. Eles teorizam que casais que tentem coisas novas juntos aproveitarão positivamente os sentimentos de autoexpansão e que isso reforçará seu compromisso.
"Estabelecemos relacionamentos porque a outra pessoa se torna parte de nós, e isso nos expande", disse Aron. "É por isso que as pessoas se apaixonam, e a experiência é emocionante. Acredito que os casais possam recuperar parte dessa sensação ao fazer coisas excitantes juntos."


Texto Anterior: Gelo fornece pistas sobre o Sistema Solar
Próximo Texto: Arte & Estilo
Projeto busca resgatar dos escombros a arte haitiana

Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.