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Diretor transporta lutas da Etiópia ao cinema
Por LARRY ROHTER
WASHINGTON - Entre os cursos que Haile Gerima ministra na Universidade Howard,
em Washington, D.C., há um chamado "Cinema e Transformação Social". Mas, para
Gerima, diretor e roteirista etíope que vive nos EUA desde os anos 1970, no que
chama de autoexílio, o tema não é uma simples preocupação acadêmica: é o que o
motiva a fazer filmes de temática africana e afro-americana.
Seu trabalho mais recente, "Teza" -o título significa "Orvalho da Manhã" no
idioma nativo do diretor, o amárico-, pode ser o filme mais autobiográfico que
Gerima fez até hoje.
Ele acompanha a trajetória angustiada de Anberber, um jovem intelectual
idealista, desde suas origens em um pequeno povoado até seus anos como estudante
de medicina na Europa; seu retorno à Etiópia, onde ele vira vítima da revolução
militar marxista que derrubou o imperador Haile Selassie, em 1974, e seu exílio
na Alemanha Ocidental, onde se torna vítima de racismo.
"Faço parte de uma geração que desejava genuinamente uma sociedade melhor, que
queria fazer algo pelo povo pobre e oprimido, mas que ficou cega, se perdeu e se
voltou contra sua própria humanidade, transformando-se no oposto do que
queríamos ser", disse Gerima, 64. "Este filme fala de deslocamento, e esse é um
tema que realmente me diz respeito."
Às vezes esse sentimento de deslocamento é literal em seus filmes, e às vezes é
metafórico. Em "Sankofa" (1993), uma modelo americana negra que faz uma sessão
de fotos na África é carregada de volta para o século 18 e a escravidão. Em
"Ashes and Embers" (1982), Gerima tratou da desilusão de veteranos afro-
americanos que retornaram da Guerra do Vietnã para a pobreza urbana e a ausência
de esperança.
Gerima chegou aos EUA em 1967 para estudar na Escola Goodman de Teatro, em
Chicago; seus professores do Corpo de Paz na Etiópia, impressionados com seu
talento, haviam organizado seu ingresso na escola. Mas ele não estava preparado
para a política racial que encontraria nos EUA e, num primeiro momento, sentiu-
se alienado tanto dos brancos, cujos jardins cuidava para se sustentar, quanto
dos afro-americanos.
"Eu nunca tinha sido desafiado da maneira como são desafiados os afro-americanos
nos EUA, e encontrar o racismo frente a frente me chocou a tal ponto que eu
tinha hemorragias nasais", disse.
"Mas eu não queria ser um americano negro, não queria me identificar com a
situação deles -eu sentia que eles eram escravos, e eu, não. Eu não acreditava
que eles tivessem vindo da África; tinha a impressão de que eram uma espécie
diferente que tinha nascido das 'plantations'. A distância intelectual era
grande demais."
Insatisfeito com os papéis que lhe eram oferecidos como ator -os atores negros
"não passavam de postes de luz ou bancos de parque"-, Gerima se transferiu para
a Universidade da Califórnia em Los Angeles, onde ganhou um prêmio de atuação e
criou vínculos com o movimento de poder negro pan-africano.
Ele passou do teatro para o cinema depois de ser exposto a diretores latino-
americanos como Glauber Rocha, Fernando Solanas e Miguel Littín, o que o fez
perceber, explicou, que sua história era "tão importante e válida" quanto as que
estava acostumado a ver em Hollywood.
Gerima chamou a atenção pública pela primeira vez em meados dos anos 1970 com
"Harvest: 3000 Years", sobre uma família camponesa etíope que luta para
sobreviver em um sistema feudal. O filme foi rodado no momento em que o governo
imperial de Haile Selassie estava ruindo.
Mas esse filme levou ao início dos problemas de Gerima com a junta militar
comunista Derg, que assumiu o lugar de Selassie. O regime disse que só
permitiria que ele fizesse outro filme em seu país natal se ele aceitasse o que
a junta chamava de a "jurisdição" dela sobre o trabalho do cineasta.
"Quando disseram aquilo, eu mal pude esperar para embarcar no avião e sair do
país, porque eu sabia que minha liberdade tinha acabado", disse Gerima.
Ele descreve "Teza" como um filme feito com paixão, mas imperfeito. Como foi
difícil obter financiamento, o filme levou mais de uma década para ser
completado.
"Em 'Teza', Gerima conseguiu captar a luz e a sombra, a majestade plena da
paisagem africana, que confere força e beleza tremendas ao filme", disse
Françoise Pfaff, colega do diretor na Universidade Howard. "É uma história de
deslocamento e perda que encontra ressonância universal."
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