São Paulo, segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros Químicos revelam a mecânica da mente Por RITCHIE S. KING Um grupo de neurocientistas japoneses está tentando espiar o interior da mente -literalmente. Eles inventaram uma maneira de transformar a matéria cinzenta do cérebro em uma substância transparente como vidro. O grupo instalado no Instituto Riken de Ciência Cerebral em Wako, Japão, que é financiado pelo governo, criou um coquetel químico de baixo custo que transforma tecido biológico morto de uma massa colorida em algo parecido com uma gelatina translúcida. Ao se embeber o tecido do cérebro nessa solução, fica mais fácil para os neurocientistas verem o que há lá dentro, um passo que, eles esperam, revelará a base física dos traços de personalidade, da memória e até da consciência. "Estou muito entusiasmado com o potencial desses estudos", disse o doutor Atsushi Miyawaki, um pesquisador da equipe, que publicou sua descoberta na revista "Nature Neuroscience". A solução química -patenteada com o nome de Scale, uma aproximação fonética da palavra japonesa para "transparente"- poderá ajudar os neurocientistas a mapear a arquitetura do cérebro. No momento, pesquisadores estão trabalhando para construir esse mapa, chamado de "conectoma", com cérebros de ratos. Em última instância, esse mapeamento poderá ser realizado em cérebros de diferentes idades, disse o doutor Miyawaki, oferecendo uma visão de como o órgão se desenvolve e até como diferenças genéticas podem afetar esse desenvolvimento. Miyawaki e sua equipe ainda precisam experimentar o Scale em um cérebro humano -seu laboratório trabalha com ratos-, mas eles pretendem fazê-lo assim que terminarem o difícil processo de obter um espécime. O doutor Jeff Lichtman, um neurocientista da Universidade de Harvard que está envolvido no projeto do conectoma humano -uma iniciativa de diversas instituições para mapear um cérebro de rato e depois um humano-, acha o Scale promissor e pretende usá-lo em seu laboratório. Parece um bom método para "clarear o cérebro", ele disse. Os neurônios do cérebro são "interconectados em uma vasta rede de ligações profundamente misteriosas, por isso existe um diagrama de ligações", disse o doutor Lichtman. Os cientistas precisam desvendar esse diagrama para poder compreender como a informação flui por ele. Se o cérebro fosse clareado usando Scale, os pesquisadores poderiam localizar trechos do diagrama "em uma sessão, isso seria fantástico", ele disse. Atualmente, para ver o tecido cerebral em um microscópio, os neurocientistas precisam cortá-lo em fatias com a espessura de um cabelo humano, para que a luz possa atravessá-lo. Para analisar um cérebro de rato inteiro dessa maneira -processo que o laboratório do doutor Lichtman está tentando, mas não está nem perto de terminar-, o órgão precisa ser dividido em cem fatias, cada uma das quais deve ser passada pelo microscópio para se fotografar as células. No entanto, esse processo exige muito trabalho e pedaços de tecido podem se perder. Esses erros difíceis de evitar podem transformar as fotos em peças deformadas de um quebra-cabeça que depois não se encaixarão em um diagrama de conexões. Um cérebro de rato clareado com Scale, por outro lado, fica transparente sem ser fatiado e as imagens podem ser feitas em três pedaços, evitando esses problemas, disse Miyawaki. Como ele clareia sem retirar água, a solução sustenta etiquetas de células geneticamente introduzidas em um ambiente úmido como aquele em que elas originalmente evoluíram. O Scale é uma mistura de baixo custo feita de ureia, glicerol e detergente. Ele e um colega detêm a patente da substância e o doutor Miyawaki incluiu a receita em seu artigo e espera que laboratórios de todo o mundo comecem a usá-lo para mapear o cérebro. Os neurocientistas não podem responder perguntas importantes sobre o cérebro enquanto não tiverem um mapa do circuito neural, disse Miyawaki, e acrescentou: "E existem muitas, muitas perguntas importantes". Texto Anterior: Ciência & Tecnologia Garimpando os dados da internet para espiar o futuro Próximo Texto: Um pecado que serve a um objetivo maior Índice | Comunicar Erros

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