São Paulo, segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Navios demais, cargas de menos

Por MATTHEW SALTMARSH
De Loch Striven, na Escócia, ao estreito de Málaca, no Sudeste Asiático, mais de um décimo dos navios para contêineres estão ociosos. A maioria ainda vai demorar a zarpar.
Embora o comércio mundial comece a se reerguer, puxado pela demanda nos países em desenvolvimento, a recuperação tem sido contrabalançada pelo aumento no número de novos navios cargueiros.
Entre as empresas de navegação mais prejudicadas estão a alemã Hapag-Lloyd e o grupo dinamarquês A. P. Moller-Maersk. A exemplo dos gigantescos bancos afetados pela crise hipotecária, essas empresas agora estão pagando por terem se expandido muito agressivamente durante o boom, segundo analistas.
A consultoria de navegação Drewry, de Londres, estima que cerca de 20 das principais transportadoras marítimas, todas asiáticas ou europeias, perderam US$ 20 bilhões em 2009. Segundo a Alphaliner, que fornece informações sobre o setor, sete transportadoras menores fecharam no ano passado.
"Nunca vimos nada assim", disse Chris Bourne, diretor-executivo da Associação Europeia de Negócios das Linhas Marítimas. "É a pior situação desde o início da conteinerização, na década de 1960."
As empresas há muito tempo precisam se adaptar aos ciclos econômicos. Na década de 1970, elas foram afetadas pelos choques do petróleo e pela reabertura do canal de Suez, o que reduziu a demanda pelos superpetroleiros que contornavam o sul da África. A recuperação levou uma década, prejudicada pela recessão nos anos 1980.
A atual desaceleração está pesando não só sobre as empresas de navegação, mas também sobre portos e estaleiros, especialmente na Europa.
Segundo a empresa de pesquisa e consultoria IHS Global Insight, o setor mundial de navegação comercial regular -envolvendo principalmente contêineres- é responsável por 13,5 milhões de empregos diretos e indiretos.
A China, maior exportador mundial, anunciou neste mês que suas exportações cresceram 17,7% em dezembro, em relação ao mesmo mês de 2008, no primeiro aumento em 14 meses; as importações subiram 55,9%.
Outros países em desenvolvimento também têm uma grande demanda por frete, especialmente de produtos como cimento e aço para construção. Mas isso significa principalmente negócios para navios-tanque e graneleiros, não para cargueiros com contêineres.
A maioria dos analistas diz que o tráfego de contêineres provavelmente só irá voltar aos níveis pré-recessão em 2012 ou depois. A Drewry prevê uma expansão de 2,4% no volume comercial global neste ano, após um declínio estimado em 10,3% no ano passado.
"No lado da demanda, de fato vemos alguma força; vemos uma força continuada na China", disse Vikrant S. Bhatia, executivo-chefe da KC Maritime, empresa de transporte graneleiro com sede em Hong Kong. "O problema que vemos é realmente no lado da oferta."
Alguns novos navios tiveram a entrega adiada, quase certamente envolvendo a perda de pagamentos dados como sinal. A transportadora francesa CMA CGM disse recentemente que estava discutindo cancelamentos e adiamentos com estaleiros da Coreia do Sul.
Apesar disso, os estaleiros esperam entregar 371 navios para contêineres neste ano e 127 em 2012, segundo a Alphaliner. Essa frota deve crescer 14% em 2010 e quase 10% no ano que vem, o que significa mais navios disputando as cargas.


Matthew Saltmarsh reportou desde Paris. Colaborou Keith Bradsher, de Hong Kong



Texto Anterior: Inteligência - Robert Kuttner: Uma longa luta americana
Próximo Texto: Ensaio: Iraniana no exílio fica livre para informar
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.