São Paulo, segunda-feira, 26 de abril de 2010

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LENTE

Democracia não mapeada

O movimento conservador "Tea Party", nos EUA, marcado por uma raiva crescente contra o que seus membros (principalmente brancos e ricos) percebem como a intrusão do governo Barack Obama em suas vidas privadas, não é o único fenômeno político em ascensão em 2010. No Reino Unido, existe a "Cleggmania".
Depois do forte desempenho de Nick Clegg em um debate televisivo no último dia 15, com o conservador David Cameron e o trabalhista Gordon Brown, Robert Mackey escreveu no blog Lede, do "New York Times", que há uma verdadeira possibilidade de que o eleitorado possa simplesmente abandonar os dois principais partidos pelos liberais-democratas de Clegg na eleição para primeiro-ministro, em 6 de maio.
Os seguidores dos partidos Trabalhista e Conservador primeiro disseram que o desempenho de Clegg foi irrelevante, já que suas probabilidades de vitória eram pequenas. Mas, no dia 19, uma pesquisa situou seu índice de aprovação em 72%, mais de 50 pontos percentuais à frente de seu rival mais próximo; outra mostrou que seu partido ganhou dez pontos; e uma terceira sugeriu que o eleitorado agora está dividido aproximadamente em três.
"Estamos em um território não mapeado", disse John Curtice, professor de política na Universidade Strathclyde em Glasgow, ao "International Herald Tribune". "Nunca tivemos esse tipo de pesquisa durante uma campanha eleitoral. Nunca houve tal ascensão dos liberais-democratas."
O Iraque, um país sem história de instituições democráticas, também ruma para um território não mapeado. Uma recontagem manual de 2,5 milhões de votos de Bagdá da eleição de 7 de março foi ordenada no dia 19. Os resultados mostraram que o amplamente secular partido do ex-primeiro-ministro Iyad Allawi ganhou 91 assentos no Parlamento, em comparação com 89 do atual primeiro-ministro, Nuri al Maliki.
Allawi, um xiita que conquistou a maioria dos votos sunitas, advertiu que a violência poderá irromper se sua vitória for anulada. Um candidato vitorioso de sua aliança, Haidar al Mullah, disse ao "New York Times" que se os resultados forem alterados o país "se encontrará em uma crise de legitimidade".
Talvez Maliki precise de algumas aulas de política eleitoral do Egito, onde o ditador Hosni Mubarak governa há 30 anos e habitualmente consegue cerca de 90% dos votos.
Mas até Mubarak, que não anunciou se vai disputar um sexto mandato como presidente em 2011, está enfrentando um desafio, relatou o "Times".
Um grupo de acadêmicos e jovens ativistas pediu que Mohamed ElBaradei, o ex-inspetor internacional contra a proliferação nuclear e prêmio Nobel da Paz, dispute a Presidência. Mas a Constituição egípcia impede que qualquer pessoa que não seja membro de um partido concorra como candidato independente.
Preparando-se para as eleições parlamentares em maio, a polícia egípcia deteve cerca de 300 membros da única ameaça política viável ao governo, a Fraternidade Muçulmana, em março. A Fraternidade é oficialmente ilegal, mas sempre foi tolerada; as detenções mostram a determinação do governo a limitar uma oposição política forte, disseram ao "New York Times" grupos de direitos humanos e analistas.
"O atual regime está no poder há 30 anos, manipulando as eleições e fazendo o que quer sem consideração pelas pressões ou o que alguém tenha a dizer", disse Salama Ahmed Salama, encarregado do conselho editorial do jornal independente "Shorouk". "Não estou nada otimista."

TOM BRADY
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