São Paulo, segunda-feira, 26 de setembro de 2011

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Hortaliças frescas são cultivadas sem terra em áreas urbanas

Por GLENN COLLINS

Michael Anthony aprecia tanto as alfaces, que compra há um mês, que criou uma receita nova de salada. A alface é a estrela do prato que ele serve no Gramercy Tavern, em Manhattan.
Colhida algumas horas apenas antes de chegar a sua cozinha, que fica a seis quilômetros da horta, a alface não poderia ser mais fresca, nem mais local.
Ela é cultivada na Gotham Greens, uma nova horta hidropônica. Em uma estufa de US$2 milhões, plantas nascem de sementes imersas em esponjas feitas de fibras de basalto vulcânico.
A água é reciclada, e são usados apenas 2.650 litros por dia -um décimo do que seria usado na agricultura convencional. O solo é substituído por lâminas finas de água enriquecida com nutrientes, que escorre por de canais de plástico que envolvem as raízes.
Construída no telhado de um antigo boliche, a horta é uma das maiores estufas hidropônicas em escala comercial da América urbana, fornecendo verduras sustentáveis para restaurantes e quitandas de alto padrão.
O cultivo hidropônico vem ganhando adeptos entre chefs que veneram ingredientes locais e valorizam as características locais. "Este volume de produção e este nível de conhecimento especializado é algo que ainda não havíamos visto", disse Anthony, falando dos produtos da Gotham Greens.
Mesmo assim, disse ele, na cozinha do Gramercy Tavern as verduras hidropônicas ainda não substituíram as plantas cultivadas à maneira tradicional.
André de Waal, chef e proprietário do sofisticado André's Restaurant, de Newton, Nova Jersey, vem comprando verduras hidropônicas de uma estufa rural situada a 15 minutos de distância. As verduras da Califórnia chegam a ele três dias depois de colhidas.
"Prefiro as hidropônicas", ele revelou. "Não há nada como trabalhar com verduras colhidas há apenas algumas horas."
Os defensores das verduras de estufas urbanas elogiam a proximidade, o frescor, a qualidade e a geração de empregos.
Mas nem todos estão convencidos. John O'Neil, vice-presidente de compras de hortifrútis do grupo de restaurantes Patina, rejeita produtos hidropônicos nos seus estabelecimentos. "São bonitos, mas têm pouco sabor", explica.
Para Gene A. Giacomelli, criador de estufas hidropônicas, os legumes cultivados em campos "podem ser afetados por chuva demais ou de menos, sol demais ou de menos". No caso dos dois tipos de produção, disse ele, o sabor das verduras se deve a um misto complexo de fatores genéticos, espécies diferentes, condições de cultivo e gestão agrícola.
Produtos hidropônicos de alta qualidade ficaram largamente disponíveis apenas recentemente, "e o mercado para eles está crescendo, assim como a demanda dos consumidores", disse Giacomelli. "As pessoas estão dispostas a pagar mais pelos hidropônicos."
Alguns agricultores do estilo tradicional também empregam técnicas da hidroponia. "Usamos o método hidropônico, a irrigação gotejada e fórmulas de alimentação contínua para estender nossa temporada de cultivo", explicou Richard Ball, proprietário da Schoharie Valley Farms, em Schoharie, a 280 quilômetros da cidade de Nova York. Há anos ele fornece legumes a cozinhas de alto padrão como as da Daniel e Per Se.
"Não há dúvida de que dá para perceber uma diferença", disse."O solo é uma coisa viva. Não dá para ser reproduzido em uma horta hidropônica."
A sofisticação tecnológica das hortas hidropônicas cresce. Na Gotham Greens, uma estação meteorológica monitora o vento, chuvas, temperatura, umidade e intensidade da luz. Esses dados são usados para a regulação das bombas de irrigação, purificadores de ar e cortinas de sombra.
O rendimento anual projetado da estufa, 91 toneladas métricas, representa uma parte pequena das mais de 1,4 milhão de toneladas métricas de hortifrútis destinados anualmente a Nova York, o maior mercado agrícola do mundo. Mas, em vista do aquecimento global, das secas, da instabilidade climática e dos custos energéticos, a agricultura hidropônica, com rendimento dez vezes superior à agricultura em campos de terra, faz cada vez mais sentido.
"Precisamos fazer esforços maiores para alimentar cada vez mais pessoas com cada vez menos recursos", disse Giacomelli.


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