São Paulo, segunda-feira, 26 de setembro de 2011

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Ex-bailarino russo investe em trabalho teatral por amor a Paris

Por ELAINE SCIOLINO

PARIS - Na primeira vez que Mikhail Baryshnikov se apresentou em Paris, em 1978, ele foi vaiado. "Foi uma experiência didática", lembrou recentemente.
Este mês Baryshnikov, 63, atuou em Paris na estreia de "In Paris", uma adaptação teatral de um conto de 1940 de Ivan Bunin, o primeiro russo que ganhou o Prêmio Nobel de Literatura.
O público na noite de estreia no Théâtre National de Chaillot deu aplausos apenas educados.
"Alguém me disse: 'Eles não vaiaram, e se não vaiaram é bom'", disse Baryshnikov.
Ambientada em 1930, "In Paris" conta a história de amor trágico de dois imigrantes russos, um ex-general e uma linda garçonete.
Encenado por Dmitry Krymov, "In Paris" usa música, canção, mímica, vídeo e imagens em tamanho "outdoor" de antigos cartões-postais de Paris para criar um mundo sombrio em preto e branco. É interpretado oito russos, seis americanos e dois irlandeses, e é apresentado em russo.
Conhecido como bailarino, Mikhail Baryshnikov teve uma segunda carreira como ator. Pela primeira vez, fala russo em cena (ele desertou em 1974).
"Ele fala russo à moda antiga", disse Krymov depois da estreia, em 8 de setembro.
Baryshnikov investiu US$ 250 mil no projeto e pediu outros US$ 250 mil emprestados a um amigo russo. "Nunca vou conseguir recuperar meu dinheiro", disse. "Isto é apenas por amor."
A peça, que ficou em cartaz dez dias, foi apresentada em Helsinque em abril e na Holanda em agosto. Em seguida, ela vai para Tel Aviv em novembro e para a Califórnia, em abril de 2012.
Ela lembra os anos em que os russos brancos fugiam dos bolcheviques, e muitos ficaram em Paris. Baryshnikov se inspirou em seu pai, um oficial militar.
"Ele não era um homem muito agradável", disse. "Não tive a mais feliz das infâncias."
A produção favorece o estilo técnico à sensualidade emocional. Krymov disse que, mais que uma história de amor, "tentei desenvolver uma peça sobre a solidão".
Baryshnikov sugeriu que ele poderia ter tomado outra direção. "Eu mesmo não concordei com muitas de suas opções. Mas não tenho o direito de levantar objeções." Ele acrescentou: "Se você se compromete, deve ser um bom soldado raso."
A peça, que Baryshnikov produziu, teve resenhas mistas. Os críticos a adoraram em Helsinque; um jornal finlandês a destruiu.
"Eles a chamaram de absurda, terrível", disse Baryshnikov. A revista "Le Nouvel Observateur" criticou a história mas elogiou Baryshnikov, enquanto o jornal "Le Monde" destacou uma cena em que o general dança brevemente.
Baryshnikov era há muito tempo um fã de Bunin, que fugiu dos bolcheviques e está enterrado perto de Paris. Mas ao contrário do escritor Baryshnikov adotou Paris. Ele tem um pequeno apartamento na Île de Saint-Louis e caminha incógnito pelas ruas.
"Em Paris eu vivo em meu próprio cartão-postal", disse. "Quando você leva as chaves da sua casa no bolso, não há nada melhor."


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