São Paulo, segunda-feira, 27 de junho de 2011

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Seus trabalhos são o que os outros cospem

Por SARAH LYALL
MUSWELL HILL, Inglaterra - Quando tomam contato com a arte de Ben Wilson, ou com Wilson no ato de criá-la, as pessoas reagem com certa incredulidade. "Quando vi pela primeira vez, pensei que se tratava de um adesivo de fruta", disse Matt Brasier, que passeava por seu subúrbio no norte de Londres um dia desses.
Uma mulher chamada Vassiliki disse que, quando encontrou Wilson na calçada, pensou que ele "não estivesse bem". Ela acrescentou: "Eu pensei: 'O que ele está fazendo?' E eles me disseram: 'Está pintando com chiclete'."
Era exatamente o que ele estava fazendo. Wilson, 47, um dos mais conhecidos artistas ao ar livre do Reino Unido, mergulhou, nos últimos seis anos, em uma paixão peculiar e muito pessoal: pinta pequenos quadros sobre chicletes pisados que encontra nas calçadas de Londres. Por mais estranho que possa parecer, o resultado é bonito: manchas de cor aparentemente aleatórias em meio ao cinza que, a um exame mais atento, vêm a ser pinturas em miniatura de quase qualquer coisa: animais, paisagens, retratos e, muitas vezes, mensagens estilizadas de lamento, agradecimento, comemoração e amor. Seus quadros tornaram-se uma crônica do bairro. Entre os que ficam na frente do correio, por exemplo, há uma pintura de "descanse em paz" para um carteiro.
Wilson atraiu muita atenção como artista. Ele criou algumas de suas primeiras peças -principalmente estruturas de madeira enormes construídas em florestas e campos, algumas encomendadas, muitas não- em lugares tão distantes quanto Austrália, Finlândia e EUA (Baltimore). Vários anos atrás, ele foi um artista residente na Universidade Lehigh em Bethlehem, na Pensilvânia.
Embora o salário de sua namorada que trabalha como professora-assistente ajude, assim como a ocasional venda de suas pinturas (em tamanho normal), Wilson faz a maior parte do seu trabalho sem pagamento. Seu atual projeto foi inspirado por diversas preocupações: a praga do chiclete nas calçadas da cidade, o descuido das pessoas pelo meio ambiente e como a publicidade, em vez da arte, domina a paisagem urbana. Sua técnica envolve amaciar o chiclete com um maçarico, borrifá-lo com laca e aplicar três camadas de esmalte acrílico. Ele usa pequenos pincéis, secando seu trabalho com um isqueiro conforme termina, e o sela com verniz transparente. Cada pintura leva de algumas horas a alguns dias para ficar pronta e dura anos.
Wilson disse que não se importa que suas pinturas sejam lavadas, destruídas para repavimentação ou arruinadas pela sujeira urbana. "Tudo é transitório", ele disse. "O que importa de verdade é o processo criativo."


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