São Paulo, segunda-feira, 27 de julho de 2009

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CIÊNCIA & TECNOLOGIA

Japão abriga legião de robôs desempregados

Por HIROKO TABUCHI

KITAKYUSHU, Japão - Eles podem ser os trabalhadores mais eficientes do mundo. Mas, em meio à crise global, enfrentam dificuldades para arrumar emprego. No Japão, país que tem o maior contingente mundial de operários mecanizados, legiões de robôs estão ociosas por causa da pior recessão das últimas décadas, que reduz a demanda mundial por carros e artigos eletrônicos.
Numa grande fábrica da Yaskawa Electric, na ilha de Kyushu (sul), onde antes robôs produziam mais robôs, agora há uma solitária máquina girando com seus braços mecânicos, testando seus motores para o dia em que as encomendas voltarem. Seus "colegas" permanecem imóveis e enfileirados. É possível que passem muito tempo desempregados. A produção industrial japonesa despencou quase 40%, levando consigo a demanda por robôs.
Ao mesmo tempo, o futuro parece menos brilhante. O aperto financeiro está injetando em alguns dos mais fantásticos projetos japoneses -como robôs de estimação ou recepcionistas cibernéticas- uma dose de realismo que pode paralisar a inovação mesmo por muito tempo depois de a economia se recuperar.
Embora em longo prazo os robôs possam ser mais baratos que operários de carne e osso, o investimento inicial é muito maior. "A recessão fez o setor dos robôs recuar anos", disse Tetsuaki Ueda, analista da empresa de pesquisas Fuji Keizai. Isso vale para os robôs industriais e para os simpáticos robôs de brinquedo. Na verdade, diversos modelos adoráveis já se tornaram vítimas da recessão. A fabricante Systec Akazawa declarou concordata em janeiro, menos de um ano depois de lançar o seu pequeno robô ambulante Plen.
O Roborior, da Tmsuk -uma espécie de caseiro com rodinhas e formato de melancia, que percorre a casa usando sensores infravermelhos para detectar movimentos suspeitos e uma câmera para transmitir imagens a moradores ausentes-, sofre para encontrar novos usuários. Isso é uma vergonha, na opinião de Mariko Ishikawa, assessora de imprensa da Tmsuk, porque os ocupados japoneses poderiam usar o Roborior para ficar de olho nos seus pais idosos, quando estes moram no interior do país. "O Roborior é justamente o tipo de robô que a socidade japonesa precisará no futuro", disse ela.
O envelhecimento da população japonesa criou mais um imperativo para o desenvolvimento dos robôs domésticos. Mas as vendas do My Spoon, robô da Secom que tem um braço articulado e equipado com uma colher, para ajudar idosos e deficientes a comer, também estão estagnadas, já que o equipamento custa ao redor de R$ 8.000.
A Mitsubishi Heavy Industries não conseguiu vender nem um só exemplar do Wakamaru, um robô para tarefas domésticas, do tamanho de um bebê, que foi lançado em 2003. E a Sony deixou de fabricar seu cão-robô, o Aibo, em 2006, sete anos depois do lançamento. Embora inicialmente tenha sido popular, o Aibo, a um preço superior a R$ 4.000, jamais conseguiu atingir o mercado massificado. Já o pequeno i-Sobot, da Takara Tomy, capaz de reconhecer palavras faladas, vendeu 47 mil unidades desde o lançamento, no final de 2007, a R$ 600 cada. Mas, com a redução das vendas no ano passado, o fabricante não tem planos de lançar novas versões.
Kenji Hara, analista da Seed Planning, empresa de marketing e pesquisas, diz que muitos projetos robóticos japoneses tendem a ser irreais, concentrando-se em humanoides e em outros saltos da imaginação que não podem ser prontamente levados ao mercado. "Os cientistas japoneses cresceram assistindo a desenhos de robôs, então todos querem criar companheiros de duas pernas", disse Hara. "Mas eles são realistas? Os consumidores realmente querem robôs empregados domésticos?"
A Robot Factory, que já foi a meca dos fãs de robôs em Osaka, fechou em abril, após uma forte queda nas vendas. "Afinal, os robôs ainda são caros e não fazem muita coisa", disse Yoshitomo Mukai, cuja loja, a Jungle, assumiu parte do antigo estoque da Robot Factory.
É claro que isso não vale para os robôs industriais -ao menos não quando a economia prospera. A Fuji Heavy Industries argumenta que seus robôs são práticos e fazem sentido economicamente. A empresa vende um gigantesco robô para limpeza que usa elevadores para percorrer sozinho os andares. "Um robô irá trabalhar dia e noite sem se queixar", declarou Kenta Matsumoto, porta-voz da Fuji. "Pode-se até economizar luz e calefação."


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