São Paulo, segunda-feira, 27 de setembro de 2010

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Empresários loucos pelo sucesso

Matthew Cavanaugh para o New York Times
Eles podem ter manias, mas pessoas motivadas e criativas como Seth Priebatsch usam essas qualidades para trabalhar, apoiando uma visão estável

Capitalistas de risco devem separar empresários visionários dos simplesmente iludidos

Por DAVID SEGAL
Cambridge, massachusetts

Uma linha fina separa o temperamento de um empresário promissor de alguém que poderia receber uma "certa ajuda", como se diz na psiquiatria. Acadêmicos e consultores profissionais afirmam que muitos empresários de sucesso têm qualidades e manias que, se fossem colocadas em suas psiques em proporções maiores, se classificariam como verdadeiras doenças mentais.
Isso não pretende sugerir que os empresários sejam malucos. Seria mais preciso descrevê-los como suficientemente malucos.
"Tem a ver com o grau", diz o psicólogo John D. Gartner, autor de "The Hypomanic Edge" [O limite do hipomaníaco]. "Se você é maníaco, pensa que é Jesus. Se você é hipomaníaco, pensa que é um presente de Deus para os investidores em tecnologia."
Os atributos que fazem os grandes empresários, segundo especialistas, são comuns em certas manias, embora em formas moderadas, e controlados para ser extremamente produtivos. Em vez de imprudência, o empresário adora riscos. Em vez de ilusões, ele imagina um produto que parece tão interessante que inspira as pessoas a apostar suas carreiras, ou muito dinheiro, em algo que não existe e talvez não seja vendável.
Por isso, os capitalistas de risco passam muito tempo examinando as psiques das pessoas em quem pretendem investir. Não é tanto uma questão de separar os lunáticos dos ligeiramente maníacos. Tem mais a ver com determinar quais hipomaníacos são arrogantes e repulsivos demais -traços comuns a esse tipo -e quais têm uma certa humanidade e técnicas interpessoais, sempre úteis para recrutar talentos e angariar dinheiro.
Alguns investidores têm testes de personalidade para ajudar a eliminar os primeiros. Outros salientam sua tolerância a manias moderadas, simplesmente porque fundar uma empresa já é uma certa maluquice. "Você precisa suspender a descrença para começar uma companhia, porque muitas pessoas lhe dirão que o que você está fazendo não pode ser feito, e se pudesse alguém já teria feito", diz Paul Maeder, sócio da firma de capital de risco Highland Capital Partners, em Lexington, Massachusetts. "É meio maluco."
Um desses empresários "meio malucos" que a Highland Capital considerou digno de um apoio de US$ 750 mil foi Seth Priebatsch, 21 anos, que fundou uma empresa chamada Scvngr para construir "o nível de jogo no topo do mundo". Para manter o ritmo de seus pensamentos e conversas em níveis administráveis, Priebatsch corre em uma pista toda manhã até despencar. Ele consegue trabalhar 96 horas seguidas e pretende morar no escritório. Qualquer coisa que o distraia e a seus futuros colegas é "maligna".
"Scvngr é um jogo que se joga no telefone", diz Priebatsch. O jogo permite que você dispute e ganhe recompensas em lojas, academias, teatros, museus e assim por diante. "Nós jogamos o tempo todo, certo?", diz. "A escola é um jogo. Mas é um jogo muito mal projetado." Os cartões de crédito American Express, com sua posição ascendente de verde, ouro e preto, são um jogo. Assim como as milhas conquistadas pelos passageiros frequentes.
"Mas a dinâmica do jogo não é conscientemente alavancada de maneira significativa, e em Scvngr sim." Isto aparentemente provoca implicações enormes. "Se conseguirmos trazer a dinâmica do jogo para o mundo, o mundo será mais divertido, mais recompensador", completou Priebatsch. O temperamento hipomaníaco grandioso não se limita a empresários. Encontra-se na política (Theodore Roosevelt), nos militares (George S. Patton) e virtualmente em qualquer campo onde os grandes riscos geram enormes recompensas.
Mas o mundo empresarial contribuiu com uma grande parcela de hipomaníacos. O mais colorido dessa estirpe foi possivelmente Henry Ford.
"Ele é o epítome do espírito empresarial livre", diz Douglas G. Brinkley, autor de Wheels for the World [Rodas para o mundo], um livro sobre Ford e sua empresa. Ford podia ser ao mesmo tempo encantador e um idiota impiedoso. Com os empregados, era um autocrata que não admitia opiniões discordantes.
Quase todas as conversas sobre hipomaníacos contemporâneos começam com o executivo-chefe da Apple, Steven P. Jobs. Como Ford, ele é um extraordinário vendedor, e também é descrito como um déspota e um temperamental maluco por controle, diz Leander Kahney, autor de Inside Steve's Brain [Dentro do cérebro de Steve].
Acadêmicos de estudos organizacionais tendem a dividir o mundo em "líderes transformacionais" (grupo em que se situam os hipomaníacos, é claro) e "líderes transacionais", os administradores equilibrados que sabem delegar, escutar e definir metas factíveis.
Os dois tipos de líderes precisam conquistar os funcionários para sua causa, mas os empresários precisam recrutar e galvanizar quando uma empresa é pouco mais que um sussurro de uma grande ideia.
"Nós temos um boletim de notas de personalidade, que inclui dez ou 12 dimensões, atributos que são críticos para o sucesso", diz Michael A. Greeley, um sócio da Flybridge Capital Partners, em Boston. O objetivo é identificar os personagens realmente erráticos, que Greeley chama de "descarrilados".
"Um dia eles acordam e sua cor preferida é rosa. No dia seguinte é verde. Eu trabalhei com hipomaníacos, e acho que podem ser muito prejudiciais, pessoas desse tipo abandonam rapidamente os colegas. Um funcionário pode ser um colaborador incrível, e então, depois de um erro, sai do bote salva-vidas."
Maeder da Highland ainda se pergunta se Scvngr é o arcabouço de uma grande empresa. Ao mesmo tempo, ele considera o investimento de US$ 750 mil uma aposta em Priebatsch, assim como em sua empresa. Você tem a sensação de que Priebatsch não vai parar, mesmo que o Scvngr seja uma vitória gloriosa.
"Eu gosto de vencer", afirma. "Sou viciado no ato de vencer, no processo. Quando você está no ato de vencer, tudo é maravilhoso. Depois que venceu, perde a graça. É bacana, é melhor do que ter perdido, mas é chato."
Montanhas de dinheiro também não o desaceleram.
"Não sou contra o dinheiro", diz. "Gosto de motos bonitas, gosto de computadores bonitos. Acho que o dinheiro é uma representação do sucesso, mas a entidade em si não me interessa. Há poucas coisas que eu desejaria que eu não tenha, e as coisas que eu quero o dinheiro não pode comprar." Por exemplo? Ele não faz uma pausa. "Quero construir o nível do jogo no topo do mundo."


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