São Paulo, segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

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LENTE

Atos vergonhosos em destaque na internet

Pode parecer que estamos vivendo em uma era desavergonhada, repleta de escândalos sórdidos e cobiça declarada. Mas a vergonha pode estar voltando à cena -ou pelo menos o ato de expor pessoas à vergonha pública.
Cada geração tem seus próprios vilões, mas os vilões de nossa geração podem ter mais dificuldade em esconder seus atos. Recentemente, atos suficientemente descarados para chocar mesmo em nossos tempos correm o risco de ser publicamente expostos, ridicularizados e provocar vergonha, graças ao equivalente, na moderna mídia social, da letra escarlate de Nathaniel Hawthorne.
No ano passado, na Inglaterra, uma mulher que odeia gatos foi exposta no YouTube e no Facebook depois de abandonar um animal numa lata de lixo. Descoberta, foi multada oficialmente em US$ 400. On-line, contudo, sua punição foi a exposição ao ridículo público e a ameaças de morte.
Alguns anos atrás, na China, um vídeo exibido on-line de uma mulher de salto alto pisoteando um gatinho até a morte foi difundido, fazendo com que internautas indignados lançassem uma busca ferrenha pela malfeitora.
Como relatou o "New York Times", ela pode ter sido apenas uma pessoa em uma nação de 1,3 bilhão de habitantes, mas a exposição intensa na web motivou o que os chineses chamam de busca por "carne humana". Em apenas seis dias, um grupo enfurecido de "justiceiros" da web identificou Wang Jiao, de Luobei, na província de Heilongjiang. Ela foi demitida de seu emprego governamental, expulsa de sua cidade e obrigada a se esconder.
Em um nível prático, a nova vergonha pode fazer do mundo um lugar mais seguro. Brett Ligon, promotor público de Montgomery, no Texas, vem postando no Twitter os nomes de motoristas que dirigem embriagados. "Há o fator do constrangimento, a 'letra escarlate' da polícia", disse Ligon ao "Times". "Se causar constrangimento a alguém é o que é preciso para impedir a pessoa de dirigir sob o efeito de álcool, sou totalmente a favor."
Há também vantagens óbvias que surgem quando empresas temem a possibilidade de serem expostas à vergonha pública em blogs de consumidores. E o mundo do namoro pode ficar mais seguro quando pessoas deselegantes e de mau caráter (ou infratores sexuais violentos) são expostas no Facebook.
Mas algumas pessoas temem as consequências possíveis de a justiça das multidões ficar descontrolada na web, onde o tribunal da opinião pública cria suas próprias leis. É claro que existem certos atos reprováveis que sempre podem intensificar o efeito da vergonha. Um exemplo: trair seu cônjuge em sua própria casa.
Como relatou o "Times", "mesmo em uma cultura sexualmente liberada, o lar é território proibido para praticar traições, como se fosse protegido por campo de força invisível. E o leito nupcial continua a ser objeto sagrado."
Poucos relacionamentos sobrevivem a uma escapadela extraconjugal cometida na cama de um casal. A advogada de divórcios Susan Bender contou ao "Times" sobre uma esposa que descobriu que seu marido a tinha traído com a babá da família, em sua própria cama. Então, ela atraiu seu marido para fazer sexo. Mas, em lugar de completar o ato, ateou fogo à cama e o deixou para combater as chamas, nu.
O marido talvez tivesse podido processar a esposa, disse Bender. Mas o casal resolveu sua disputa fora do tribunal, sem alarde. O medo da vergonha pública foi grande demais.
KEVIN DELANEY

Comentários: escreva para o e-mail nytweekly@nytimes.com


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