São Paulo, segunda-feira, 30 de março de 2009

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NEGÓCIOS VERDES

Uma reforma "verde" possível e a custo acessível

Por PENELOPE GREEN

BARCELONA, Espanha - A reforma que Petz Scholtus fez em um apartamento no Barri Gòtic, ou cidade velha de Barcelona, foi um sucesso de neutralização de carbono. Ecorrenovação é o termo que essa designer de produtos de 28 anos nascida em Luxemburgo usa para descrever a restauração e decoração que está em andamento em seu apartamento. É um imóvel de um quarto num prédio do século 18, onde Scholtus mora e trabalha. Em Barcelona, cidade que sempre valorizou o novo e o brilhante, o projeto equivale a um esforço de contracultura.
"Aqui as pessoas têm a ideia de que sustentabilidade é para ricos ou que é algo horrível, hippie e de baixa qualidade", disse Scholtus. "Eu queria ver se é possível fazer algo sustentável, barato e ao mesmo tempo bacana." As experiências de Scholtus (que ela relata em seu blog, r3project.blogspot.com) são lições de como pôr em prática conceitos verdes com um orçamento pequeno numa casa que já existe, em qualquer cidade. Ela comprou o apartamento em 2006 por 235 mil euros (cerca de R$ 700 mil); não havia encanamento, eletricidade ou vidro nas janelas. O banheiro ficava em um closet no terraço, e o que viria se tornar o quarto estava fechado por uma parede (a única entrada era pelo terraço).
Scholtus se desafiou a ser ambientalmente responsável durante cada etapa de sua aquisição e reforma do imóvel, e o primeiro passo foi procurar um financiamento ecológico. Para comprar o apartamento ela conseguiu um empréstimo do Triodos, banco ético holandês. Esse tipo de banco, mais comum na Europa e no Canadá, investe apenas em projetos e negócios social e ambientalmente responsáveis. Para converter seu novo lar num espaço vivível, o desafio da designer era se aproximar o mais possível dos três R's do ambientalismo: reduzir, reutilizar e reciclar. Ela conseguiria achar produtos que fossem fabricados perto de sua casa, produzidos sem grande impacto ambiental, que pudessem ser desmontados depois que ela deixasse de usar o imóvel e que não consumissem energia demais? Ah, e tudo isso por menos de 30 mil euros (cerca de R$ 90 mil)?
Scholtus teve sucessos e decepções, mas o orçamento não foi ultrapassado. Uma decepção: o piso feito de restos de material de TV reciclados que ela achou para a cozinha e para o banheiro na cor branca na verdade era de um bege feio. Mas ela rapidamente encontrou ladrilhos de cerâmica produzidos por uma companhia local que tinha sua própria estação de tratamento de água -essa era a parte boa. Por serem de cerâmica, os ladrilhos só podiam ser fixados com reboco -maneira antiga e permanente de fixação, que não é a ideal para quem prefere produtos desmontáveis.
Um eletricista colombiano virou seu assistente e depois empreiteiro em tempo integral, apesar de inicialmente ter ironizado suas instruções para achar coisas como canos sem PVC para o encanamento (PVC, ou policloreto de vinila, é um material de construção quase onipresente; ambientalistas se preocupam com as emissões tóxicas decorrentes de sua produção e descarte). "No final, ele entrou na minha e ficava me perguntando 'isso é sustentável?'", disse ela. Como sistema de aquecimento da água e do imóvel, Scholtus comprou um aquecedor de gás condensado. Ela também sonhava com aquecimento de chão, mas o custo desse sistema a fez optar por aquecedores de baixo H2O (que usam dois litros de água, em vez de 20), produzidos pela Jaga. A mesa de jantar é uma chapa de vidro que ela achou no meio do entulho de seu apartamento. "Os trabalhadores ficavam reclamando que aquilo era grande demais para ser removido", ela disse. Então ela achou alguns cavaletes na rua, pintou-os e os colocou embaixo da chapa para compor uma mesa.
Caixas de vinho desmontadas aguardam utilização, enquanto seus armários de cozinha da loja Ikea e gavetas antigas resgatadas da rua cheiram a incenso -"acho que elas devem ter vindo de uma igreja", disse Scholtus, torcendo o nariz.


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