São Paulo, segunda-feira, 31 de maio de 2010

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Hollywood agora quer mulher natural

Por LAURA M. HOLSON
Hollywood levou anos para criar a mulher perfeita. Agora, quer de volta a mulher como ela era. Em número pequeno, mas significativo, cineastas e executivos estão começando a rever a atitude de Hollywood em relação a implantes nos seios, Botox, lábios com injeções de colágeno e cirurgias plásticas.
Os executivos de TV da Fox, por exemplo, dizem que começaram a contratar mais atores e atrizes de aparência natural vindos de Austrália e Reino Unido. Isso porque as candidatas de curvas fartas e aparência jovem pouco natural que comparecem aos testes em Los Angeles sofrem de um excesso de mesmice. "Acho que todo o mundo parece drag queen ou stripper", comentou Marcia Shulman, responsável pela escolha dos atores para programas da Fox.
Diretores de "casting" independentes como Mindy Marin, que trabalhou no filme "Amor Sem Escalas", estão pedindo aos agentes de talentos que convençam seus clientes a não fazer cirurgia plástica -especialmente no caso de celebridades mais velhas, que, diz Marin, vêm perdendo trabalhos porque sua pele é esticada demais.
"O que eu quero é ver uma aparência real", disse Marin.
Mesmo figurantes são examinados de perto. Sande Alessi, que ajudou a escolher o elenco dos filmes "Piratas do Caribe", disse que tem se oferecido a fotografar atrizes, dizendo a elas que podem ficar com as fotos para seus books.
Cortesia profissional? Não exatamente. Para filmes de época, os cineastas preferem atrizes com seios naturais. Tanto que, quando a Walt Disney recentemente publicou anúncios pedindo figurantes para o novo filme "Piratas", o texto especificou que só seriam aceitas mulheres sem implantes. Quando faz uma foto das atrizes, disse Alessi, "nem precisamos perguntar -já sabemos".
A onda do "menos é mais" é impelida por tendências sociais e tecnológicas conflitantes, disseram mais de uma dúzia de profissionais do cinema e da TV.
As cirurgias plásticas ainda são muito procuradas, tanto que 10 milhões de procedimentos plásticos cirúrgicos e não cirúrgicos foram feitos nos EUA em 2009. Ao mesmo tempo, a difusão da TV de alta definição -sem falar no olhar exímio de um público curioso- tem facilitado a identificação de um lifting de pálpebra mal-feito ou de pontos mal costurados na linha do cabelo de uma celebridade.
É claro que os homens não são imunes à atração do rejuvenescimento prometida pela cirurgia. Mas as mulheres são submetidas ao escrutínio mais cuidadoso.
"A era do 'estou linda porque fiz tal ou tal procedimento' ficou para trás", disse Shawn Levy, diretor e produtor dos filmes "Uma Noite no Museu". "Dez anos atrás, as atrizes achavam que precisavam fazer plástica para conseguir um papel. Hoje, (...) chegar a uma sessão de 'casting' ostentando aparência falsa prejudica as chances de ser escolhida."
A perfeição juvenil é altamente valorizada em Hollywood, apesar da aparente canonização de atrizes mais velhas como Meryl Streep e Helen Mirren. Mas uma boa atriz de mais de 35 anos submetida a uma plástica benfeita ainda pode encontrar trabalho. Nessa idade, a reação negativa não é contra a plástica em si, mas contra sua execução mal-feita.
"Tanto se comenta nos bastidores", disse Levy, aludindo a suas conversas com executivos de estúdios sobre protagonistas submetidas a plásticas. "Por que ela fez aquilo com ela mesma? Ela era linda. Mas agora não podemos trabalhar com ela."


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