São Paulo, segunda-feira, 31 de outubro de 2011

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No Brasil, um mestre do horror

Filmes fazem sucesso com músicos punk e metaleiros

Por LARRY ROHTER

SÃO PAULO, Brazil ­ O alter ego de José Mojica Marins no cinema, Zé do Caixão, é um agente funerário maluco e sádico que sempre aparece trajado de preto, com cartola, capa preta e unhas longas e assustadoras.
Seu comportamento extremo e aparência demente, começando com dois filmes de baixo orçamento feitos em preto e branco nos anos 1960, "À Meia-Noite Levarei Sua Alma" e "Esta Noite Encarnarei no Teu Cadáver", fizeram dele uma figura cult para fãs do horror. Alguns admiradores vêem Mojica, que já dirigiu, escreveu ou atuou em mais de 50 filmes, como uma espécie de Roger Corman sul-americano, autor de filmes B. Para outros, seu trabalho não passa de lixo.
"Sou um original, diferente de qualquer outro, mas o caminho tem sido difícil", falou Mojica. "Sei que pelo fato de ser Zé do Caixão sou visto como doido, blasfemo e que alguns críticos cospem em mim, mas conservei minha independência."
José Mojica Marins nasceu em São Paulo numa sexta-feira 13 de 1936. Seus pais administravam um cinema. "Sabe o garoto naquele filme italiano 'Cinema Paradiso'? Bem, quando assisti o filme, falei 'uau, aquele garoto é igualzinho a mim'. Minha vida era aquela. Não havia um filme que eu não visse."
Ele ganhou sua primeira câmera quando tinha 8 anos e nunca pensou em fazer nada na vida que não fosse cinema. Sua grande chance veio quando comprou uma sinagoga abandonada em São Paulo e a transformou em estúdio.
Mas os censores do governo, disse ele, "mutilavam", proibiam ou até mesmo o impediam de rodar seus filmes provocantes, que tinham títulos como "Delírios de um Anormal". Quebrado, Mojica virou um diretor de aluguel, filmando faroestes, ficção científica e até mesmo pornochanchadas.
Ele parecia destinado a não sair da obscuridade, mas a tecnologia acabou por ajudá-lo. Quando os filmes sobre Zé do Caixão saíram, primeiramente em VHS e depois em DVD e no YouTube, foram descobertos por fãs de horror de fora do Brasil. Mojica disse que o visual singular do personagem Zé do Caixão lhe veio pela primeira vez "num pesadelo terrível, violento, pesado". Uma marca registrada do personagem são suas unhas compridas.
Mojica disse que entre 1964 e 1999 ele não cortou as unhas uma única vez, de modo que "no comprimento máximo elas mediam quase um metro, com curvas que as faziam parecer fios de espaguete".
Desde então, ele guardou as unhas em casa e as cola quando veste o figurino do personagem. Os Ramones eram fãs dedicados de Zé do Caixão, como também é o cantor e diretor de cinema Rob Zombie. Grupos como Sepultura, Necrophagia e Faith No More já compuseram canções que fazem referência aos filmes de Zé do Caixão.
Em 2008 Mojica finalmente conseguiu fazer "Encarnação do Demônio", concebido mais de 40 anos antes. O filme, que recentemente saiu em edição conjunta em DVD e Blu-ray, mostrou ser tão ofensivo quanto qualquer outra coisa que Mojica já tinha feito.
"Ele estava cheio de raiva e ressentimento, fervilhando de ódio por ter sido obrigado a esperar todos estes anos para ganhar vida, então quis ser mais malévolo que os anteriores", disse Dennison Ramalho, que escreveu o roteiro em parceria com Mojica. "Ele ainda está rompendo fronteiras."


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