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As últimas mensagens
Impulsionada por internet e telefonia, a participação do leitor está transformando a produção jornalística. Essa pressão veio para ficar, e é bom que assim seja
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ESTA ÚLTIMA coluna como ombudsman é dedicada aos leitores da Folha que procuraram com insistência, nos últimos três
anos, a intermediação desta
ouvidoria para exigir do jornal
mais qualidade e equilíbrio,
para manifestar seus pontos
de vista e para sugerir temas
de artigos e reportagens. Foram 7.286 mensagens em
2004, primeiro ano do mandato, e 13.280 ao longo de 2006,
um crescimento de 82% num
período em que o jornal esteve
com sua circulação estagnada.
Como era impossível ouvir
a todos, pedi a dez dos leitores
mais assíduos que me enviassem uma lista com os pontos
que mais lhes agradam na
Folha e aqueles que mais os
incomodam.
A professora Doralice Araújo, de Curitiba, foi quem mais
escreveu nos três anos, 110
mensagens. Além dela, pedi a
opinião da artista plástica Maria Gilka (São Paulo), dos professores José Augusto Lisboa
(São Paulo) e Carlos Brisola
Marcondes (Florianópolis),
do bancário Pedro Eugênio
Beneduzzi Leite (Brasília), da
educadora Márcia Meireles
(São Paulo), do representante
comercial Adilson Minossi de
Oliveira (Florianópolis), da
escritora Sylvia Manzano (São
Paulo), de Celso Balloti (São
Paulo) e do contador Ney José
Pereira (São Paulo).
Críticas e elogios
O rol de queixas foi maior do
que o de elogios. Dois leitores
foram exclusivamente críticos, Ney José e Celso Balloti.
Ney José foi o primeiro leitor
com quem conversei às vésperas de assumir a função de ombudsman. Perguntei se confiava na imprensa e editei sua resposta na primeira coluna
("Imprensa, crises e desafios",
11/ 4/2004): "Confio, mas com
um pé atrás, desconfiando
muito". Agora, respondeu de
forma sucinta ao que mais lhe
agrada na Folha: "Nada".
Entre os dez comentários
que recebi, quatro acham que
o jornal é antipetista ou pró-PSDB. "Incomoda o eterno
antipetismo, o eterno viés negativo de tudo que diga respeito ao PT e a Lula", diz José Augusto. A pergunta de Celso Balloti vai na mesma direção:
"Assumindo (...) que o tratamento dado aos petistas seja o
correto, por que não houve o
mesmo carnaval quando dos
muitos e não menos cabeludos escândalos do governo tucano?" Márcia Meireles acha
que é "evidente o desequilíbrio na cobertura entre as administrações petistas e as de
outros partidos". Sylvia Manzano destaca a diversidade de
assuntos tratados pela Folha,
mas avalia que o jornal "quer a
todo custo desqualificar o presidente Lula".
Ney José acha o jornal "ambíguo": "A Folha não é plural". Pedro Eugênio acha que o
jornal é plural nas opiniões,
mas se sente incomodado com
o fato "de a Folha não deixar
claro, em editorial, que candidato está apoiando nas eleições". Ainda em relação a posições editoriais, Carlos Marcondes elogia "a pluralidade
de assuntos" abordados, "a
profundidade com que eles
são tratados e a honestidade",
mas se diz incomodado "por
um certo viés antiservidor público e simpatia excessiva por
privatização".
Quase todos reclamam do
pouco espaço que os leitores
têm no jornal. Márcia Meireles acha o "Painel do Leitor"
"muito pequeno", Doralice
aponta para a presença de
"leitores afamados" em detrimento do "leitor comum",
mesma queixa de Ney José ("o
"Painel do Leitor" não é do
leitor e sim dos mais-que-leitor") e de Adilson de Oliveira
("...o espaço destinado ao
leitor é usado por medalhões
(...) e falta espaço para quem
de fato sustenta o jornal"). E
José Augusto o considera
"tendencioso".
Márcia Meireles explica que
escolhe diariamente a Folha
pelo quesito "conjunto": acha
importante a função do ombudsman (quatro outros leitores destacaram a iniciativa do
jornal), avalia que há pluralidade de opiniões, que o jornal
busca equilíbrio ("essa quimera!") nas coberturas políticas,
gosta do projeto gráfico, dos
editoriais contundentes, dos
debates públicos que o jornal
promove, mas lhe incomoda
"a dificuldade [da Folha] de
assumir erros", de lidar com
críticas e o "tom arrogante".
As outras reclamações são
pontuais: "as legendas mal redigidas" e "os temas fúteis de
domingo" (Doralice), "as apurações sem fonte" (José Augusto), o "Painel", "que se
presta a todo tipo de fofocas e
balões de ensaio" (Pedro Eugênio), a página inteira de publicidade na capa da Ilustrada (Márcia Meireles), alguns
colunistas (Adilson), "fotos escandalosas e obscenas" e "a
apologia que a Ilustrada e o
Mais! fazem das drogas" (Maria Gilka).
Entre os pontos positivos,
além dos já citados, estão o
projeto editorial do jornal e a
qualidade informativa (Doralice), a diagramação e os quadrinhos (José Augusto), a seção "Tendências/Debates"
(Pedro Eugênio), as reportagens de denúncia e o caderno
Ciência (Adilson) e a correção
de erros (Maria Gilka).
O futuro
Impulsionada pelas facilidades da internet e da telefonia, a crescente participação
dos leitores está transformando a produção jornalística.
Não é possível fazer mais o jornalismo como entendíamos
há uma ou duas décadas, de
mão única. Os leitores têm
mais informações, estão mais
preparados para questionar e
têm canais que facilitam as intervenções.
É evidente a dificuldade que
os diários estão tendo para
compreender e enfrentar as
transformações que interferem no seu desempenho. Na
minha primeira coluna, assinalei que o mandato iniciava
em meio à maior crise da história das empresas jornalísticas. Deixo a função sem que a
crise tenha sido de todo superada e sem que os jornais tenham dado o salto de qualidade que eu esperava e desejava.
Eles estão conscientes de
que devem mudar, mas ainda
não têm clareza da direção. A
impressão que tenho, nestes
três anos de observação, é que
as empresas estão com o foco
completamente voltado para a
parte comercial, e a discussão
sobre o conteúdo do novo jornal deixou de ser prioridade
com a fragilização das Redações. Mas a saída terá de vir
das Redações.
É fato que os jornais perderam uma grande fatia do bolo
publicitário. Em 1996, tinham
25,64 % de participação no total do faturamento com publicidade de todos os meios. A televisão aberta tinha 60,13%.
No ano passado, as TVs abertas continuavam no mesmo
patamar (59,37%), enquanto
os jornais caíram para 15,46%
-o nível mais baixo desde que
o Projeto Intermeios, da revista "Meio & Mensagem", faz o
levantamento.
Isso justifica uma ação forte
de recuperação de mercado.
Mas o principal patrimônio
dos jornais continua a ser a
credibilidade de suas Redações, que está associada à confiança nas informações e nas
análises (qualidade) e ao equilíbrio das coberturas (pluralismo, apartidarismo).
É bom nos acostumarmos:
a pressão dos leitores veio para ficar, e é bom que assim seja. Os novos tempos exigem
das empresas jornalísticas
equipes mais fortes, mais
transparência, mais abertura
para a sociedade, mais prestações de contas, mais responsabilidade social.
O apoio indispensável
O trabalho do ombudsman
depende de apoios em várias
áreas do jornal. A todos que
facilitaram o exercício do
mandato, meus agradecimentos: Rosângela Pimentel e
Ricardo Perrota (assistentes);
Ana Estela de Sousa Pinto,
Rogério Ortega, Benedito
Carlos de Almeida e Wayne
Fernandes (Treinamento e
Qualidade); Paulo Ramos e
Thaís Nicoleti de Camargo
(consultores de português);
Carlos Henrique Kauffmann,
Flora Pereira, Danilo Alves e
Daniel Tremel (Banco de Dados); Fábio Marra (Arte), Carvall e Osvaldo (ilustradores),
John Wright e Claudia
Strauch (tradutores); Mauricio Puls e Paula Lago (redatores de Brasil), Alba Bruna
Campanerut e Suzana Singer
(Secretaria de Redação).
Desejo boa sorte ao novo ombudsman, Mário Magalhães.
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Marcelo Beraba é o ombudsman da Folha desde 5 de abril de 2004. O ombudsman tem mandato de um ano, renovável por mais dois. Não pode ser demitido durante o exercício da função e tem estabilidade por seis meses após deixá-la. Suas atribuições são criticar o jornal sob a perspectiva dos leitores, recebendo e verificando suas reclamações, e comentar, aos domingos, o noticiário dos meios de comunicação.
Cartas: al. Barão de Limeira 425, 8º andar, São Paulo, SP CEP 01202-900, a/c Marcelo Beraba/ombudsman,
ou pelo fax (011) 3224-3895.
Endereço eletrônico: ombudsman@uol.com.br. |
Contatos telefônicos:
ligue 0800 0159000; se deixar recado na secretária eletrônica, informe telefone de contato no horário de atendimento, entre 14h e 18h, de segunda a sexta-feira. |
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