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São Paulo, domingo, 01 de junho de 2003

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Incorreção, imprecisão, omissão

Exemplos mencionados a seguir revelam que a Folha teve dificuldades ao longo da semana com a correção e a precisão em relatos publicados.
O mais relevante se refere ao episódio da mulher que, driblando a segurança e o cerimonial, aproximou-se do presidente da República e fez um discurso a quase um metro dele em ato de lançamento da política nacional de saúde mental, quarta-feira, no Palácio do Planalto.
O jornal mencionou o fato em dois parágrafos enxertados no meio da reportagem sobre a cerimônia, optando por destacar, em imagens, dois atores que ali se pronunciaram.
Sobre o discurso da mulher, informou apenas que "pregou o evangelho" e falou da importância de Cristo no tratamento de doentes mentais.
A concorrência, porém, não só publicou a foto dela cara-a-cara com um Lula visivelmente constrangido como também ressaltou que, em seu discurso, a mulher fizera uma aberta defesa do traficante Fernandinho Beira-Mar. Uma coisa e outra, aliás, haviam sido mostradas desde a noite de quarta-feira, no "Jornal Nacional".
Onde estavam, então, os repórteres da Folha, que teve de recuperar tudo na edição de sexta?
Em reportagem na terça-feira sob o título "Primeira viagem de Kirchner deve ser ao Brasil", o jornal informou que, na noite anterior, um grupo de estudantes da Faculdade de Direito da Universidade de Buenos Aires tinha realizado uma manifestação contra o ditador cubano Fidel Castro, cuja palestra, que seria feita ali, "foi suspensa após os protestos".
Um leitor e um conselheiro da embaixada de Cuba no Brasil enviaram e-mail ao ombudsman dizendo que a palestra ocorrera, sim, com "milhares" de presentes -fato divulgado, inclusive, em alguns jornais.
A correspondente da Folha em Buenos Aires alega que o texto dizia que a palestra havia sido "suspensa, não cancelada". Relata também que ela seria às 18h e foi adiada por conta dos protestos, só começando às 22h30.
Tudo bem. Ainda assim, não dá para entender por que a informação de que o discurso, afinal, aconteceu não foi publicada pelo jornal, cuja edição mais tardia se encerra por volta das 23h (não há diferença de horário entre nós e a capital argentina).
Cuba, aliás, protagonizou um outro texto problemático -pequenino, mas cheio de lacunas.
Foi na edição de quinta, dentro do material sobre o relatório da Anistia Internacional referente aos direitos humanos em diversas partes do mundo.
Ele informava que o Senado brasileiro tinha aprovado uma moção contra a recente onda de repressão a dissidentes promovida por Havana.
Nada dizia, no entanto, sobre quando isso ocorrera nem como tinha sido a votação, ficando insatisfeita a curiosidade elementar de todo leitor interessado no assunto sobre, por exemplo, como teriam votado, aí, os parlamentares do PT.
O dólar não caiu nem subiu por causa dessas omissões, mas o jornal não deveria subestimá-las. Elas denotam desprezo pelos fatos, falta de vivacidade na reportagem e na edição, além de lapsos de sintonia com interesses básicos do leitor.


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