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O jornal de chuteiras
Cobertura da Copa 2006
já causa uma sensação
de overdose até para
quem gosta de futebol
A ATENÇÃO da Folha, e
de toda a imprensa brasileira, estará cada vez
mais voltada para a Copa do
Mundo de futebol que começa
na próxima sexta-feira, na
Alemanha. A editoria de Esporte já tem caderno próprio,
separado de Cotidiano, desde
a semana passada, e amanhã o
jornal lança o caderno diário
Copa 2006.
Eleições presidenciais, escândalos no Congresso, investigações da Polícia Federal e
do Ministério Público, ataques do PCC -a tendência é
de que todos esses assuntos
que marcaram a vida nacional
nos últimos meses cedam espaço para as notícias da seleção brasileira.
A cobertura da Copa é uma
grande oportunidade de faturamento para os meios, seja
pelo interesse que desperta no
público, seja pela publicidade.
A Folha vendeu neste ano cotas de patrocínio para quatro
empresas (Bradesco, Extra,
Intel e Tim).
O envolvimento do jornal
pode ser medido pelo número
de profissionais que terá no
front alemão, pelo número de
produtos especiais que lançou
e lançará e pela quantidade de
papel que pretende gastar.
Vou dar alguns números colhidos na Redação, mas é bem
possível que sofram alterações com o correr do Mundial.
Segundo o editor de Esporte, José Henrique Mariante, a
Folha terá na Alemanha 17
profissionais, entre repórteres, fotógrafos e colunistas. É
uma equipe maior do que a
que foi para a Copa da Coréia e
do Japão, em 2002 (12), igual à
que cobriu o Mundial dos Estados Unidos, em 1994, e bem
menor do que a foi para a
França em 1998 (26).
É muito ou pouco? "O Globo" terá 21 jornalistas, o mesmo número que enviou para a
Copa da França. O diretor de
Redação, Rodolfo Fernandes,
justifica o tamanho da equipe
com quatro argumentos: a Copa é na Europa, o que atrai
sempre mais torcedores brasileiros; o Brasil é detentor do título; o horário dos jogos é favorável e o câmbio está bem
melhor do que na Coréia e no
Japão. "O Estado de S. Paulo"
não quis informar quantos
jornalistas enviará.
Overdose
O caderno diário da Folha
terá 8 páginas, mas deverá ter
entre 10 e 12 páginas nos dias
seguintes aos jogos do Brasil.
O jornal já publicou seis cadernos especiais para a Copa,
incluindo o que circula hoje, e
planeja publicar mais sete.
Essas megacoberturas já fazem parte da tradição da imprensa brasileira. A sensação,
na maior parte do tempo, é de
overdose, mesmo para quem
gosta de futebol. A competição entre os meios de comunicação não se limita à qualidade das coberturas, aos recursos gráficos e aos colunistas
estrelados. Implica também
quantidade. E quantidade
nem sempre é qualidade.
Há momentos em que é evidente que não há notícia para
tanto espaço, principalmente
neste período de preparação,
antes de a bola rolar para valer. Só isso pode explicar a edição da foto de Ronaldo na capa do jornal no sábado, dia 27,
fazendo um gesto obsceno durante um treino da seleção. Ou
a publicação de meia página,
na quarta-feira, com especulações a respeito de uma mancha no dedão do pé esquerdo
do mesmo Ronaldo.
O que se espera do jornal,
além de bom senso, é que o esforço para produzir uma boa
cobertura do futebol não afete
o acompanhamento dos grandes temas que continuam a
assombrar a vida nacional.
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