São Paulo, domingo, 05 de abril de 2009

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Em casa de ferreiro, leitor se afoga nos números

Tenho insistido, com frequência e ênfase, em minha avaliação diária das edições do jornal e nesta coluna que não se deve deixar o leitor desamparado com cifras enormes sem lhe oferecer algum tipo de medida do seu significado.
Mas "casa de ferreiro, espeto de pau". Aqui mesmo, na semana passada, esta falha ocorreu ao se informar que o governo Sarkozy havia ajudado os diários franceses com um pacote de 600 milhões de euros.
E daí? É muito ou pouco? A maioria dos leitores como eu não faz a menor ideia de quanto isso vale e tende a se afogar nos números. Nem o cuidado de fazer a conversão para reais (cerca de 1,8 bilhão) foi tomado.
Constatado o equívoco, a primeira medida é remediá-lo: a quantia representa bastante para os jornais impressos da França, quase a metade do faturamento anual dos que têm circulação nacional.
Não será um cheque para ser descontado de uma vez. O auxílio virá na forma de mais anúncios estatais, de uma assinatura anual que cada cidadão francês ganhará de presente ao fazer 18 anos e de financiamento a fundo perdido para a modernização das empresas.
O custo maior para o jornalismo será, claro, perda de independência editorial e declínio ainda maior da confiança do público.
A segunda conclusão a tirar deste caso é que no jornalismo é muito fácil errar, mesmo quando o jornalista tem experiência e está consciente do que deve fazer.
De modo nenhum isso pode servir de desculpa para quem erra ou para induzir à leniência com o erro. Ao contrário: precisa conduzir todos os que sabem de suas potenciais deficiências a serem ainda mais rigorosos, atentos, detalhistas, pacientes, cautelosos e precisos.


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