São Paulo, domingo, 05 de setembro de 2010

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SUZANA SINGER - ombudsman@uol.com.br

@folha_ombudsman


À PROCURA DO VILÃO


PT E PSDB IMPUTAM UM AO OUTRO A CULPA PELA QUEBRA DE SIGILO FISCAL; CABE À IMPRENSA ESCLARECER ESSA HISTÓRIA

AS MANCHETES de jornal finalmente chegaram ao horário eleitoral gratuito. Para dar credibilidade ao escândalo da quebra do sigilo fiscal de Verônica Serra, os tucanos exibiram, na quinta-feira à noite, páginas da Folha e do "Estado de S. Paulo" falando do caso.
PSDB e PT jogam com a confusão: enquanto não se esclarece o episódio, tentam imputar culpa um ao outro. A Receita Federal, pelo que foi noticiado, não tem se pautado pela transparência nas investigações. A Polícia Federal ainda não mostrou resultados. Cabe, portanto, à imprensa colocar os inúmeros pingos nos "is" dessa história.
O principal deles é esclarecer a mando de quem foram remexidos os documentos da filha de José Serra.
As suspeitas recaem sobre o PT. Primeiro, pelo histórico: a espiada na conta bancária do caseiro Francenildo (2006), os "aloprados" com dinheiro vivo (2006), o levantamento de gastos pessoais de Ruth Cardoso (2008) e a recente descoberta, de junho, de que havia um dossiê com dados sigilosos de pessoas do PSDB nas mãos de um grupo da pré-campanha de Dilma Rousseff.
Outro agravante contra o partido do governo é a revelação de que o contador que entregou a procuração falsa de Verônica Serra era filiado ao PT, como revelou o "Jornal Nacional" de sexta-feira.
Há ainda o argumento da motivação: já que vários tucanos tiveram o sigilo violado, o responsável deve ser o inimigo nº 1.
São todos indícios, ainda não conclusivos. Petistas já espalharam que interessaria também a Aécio Neves reunir dados sobre o colega de partido que disputava com ele a vez de se candidatar à Presidência, em setembro do ano passado, quando a cópia da declaração do Imposto de Renda de Verônica foi obtida.

JORNALISMO DECLARATÓRIO
O primeiro passo para a imprensa agora é distanciar-se da troca de acusações. Basta registrar que Serra disse que "nos tornaremos todos francenildos" e que Dilma retrucou que "a oposição está desesperada". Da verborragia política, não sairá nada além disso.
Serra joga pistas, como dizer que dados da filha já estavam em "blogs sujos", mas não explica o que havia neles nem se foram obtidos por meio de ato ilícito. Dilma só se preocupa em minimizar o ocorrido -um "malfeito" na Receita, segundo ela- e em ficar o mais longe possível da lama que emerge a cada dia.
Chega de jornalismo declaratório. Mesmo aquele em "off", como fez a Folha na sexta-feira, ao manchetar "Serra diz ter feito alerta a Lula sobre ataques a sua filha". A afirmação do candidato teria sido feita a "aliados".
Reproduzindo as aspas acriticamente -sem indagar por que Serra não tornou esse fato público antes-, o jornal prestou um serviço ao tucano: permitiu que criticasse Lula, sem o ônus de atacar, na televisão, um presidente tão popular.
Não será tarefa fácil descobrir quem deu a ordem para levantar os dados de Verônica Serra, porque o principal personagem -o contador- tem se revelado um escroque, exigindo dinheiro para dar entrevistas e fazendo troça de seus minutos de celebridade.
A Folha não paga por informação, entrevista nem para que alguém pose para foto -e faz muito bem. Na hora em que o talão de cheques entra em cena, a confiabilidade da apuração cai por terra. É verdade que nenhuma informação passada a jornalistas é desinteressada, mas a motivada por dinheiro é a mais frágil de todas.
Sem por a mão no bolso e sem esperar revelações dos candidatos, a Folha está diante do desafio de achar o vilão desse enredo antes de 3 de outubro. Depois da eleição, o escândalo da filha do presidenciável se juntará ao dos aloprados e tantos outros, que estão hoje esquecidos ou foram atropelados por novas baixarias políticas.


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Suzana Singer é a ombudsman da Folha desde 24 de abril de 2010. O ombudsman tem mandato de um ano, renovável por mais dois. Não pode ser demitido durante o exercício da função e tem estabilidade por seis meses após deixá-la. Suas atribuições são criticar o jornal sob a perspectiva dos leitores, recebendo e verificando suas reclamações, e comentar, aos domingos, o noticiário dos meios de comunicação.
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