São Paulo, domingo, 07 de novembro de 2004

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A eleição nos EUA

Em relação à eleição nos Estados Unidos, destaco alguns aspectos da cobertura da Folha. Primeiro, o esforço do jornal, num período de contenção de despesas, ao enviar àquele país jornalistas experientes (como Clóvis Rossi, Fernando Canzian e Sérgio Dávila) e ao reservar bastante espaço (papel) para a cobertura diária e os cadernos especiais.
O segundo ponto não diz respeito apenas à Folha, mas a praticamente todos os jornais brasileiros: foi indisfarçável a simpatia dos diários pela candidatura democrata de John Kerry.
Por fim, a extrema dependência que temos das agências e serviços jornalísticos americanos. Essa subordinação restringe a publicação de pontos-de-vista de fora dos Estados Unidos.
Reproduzo a seguir alguns textos publicados pela Folha ao longo desta semana e que o leitor pode não ter percebido. As críticas podem ser aplicadas a outras imprensas e a outras coberturas:
 
"Não vi nenhuma novidade na cobertura, que foi bastante superficial. A grande imprensa tem a tendência de dar uma enorme ênfase a pequenas controvérsias, como o histórico militar de [George] Bush ou a passagem de [John] Kerry pela Guerra do Vietnã, mas negligencia os temas relevantes. (...)
A grande imprensa não consegue deixar passar questões irrelevantes. Contudo não cobre profundamente assuntos muito sérios, como a Guerra do Iraque ou a situação econômica do país."
Thomas Patterson, professor da Kennedy School of Government da Universidade Harvard, em "Mídia foi "superficial", diz analista", em 2/11.
 
"Apesar da polarização ideológica [que dividiu a mídia dos EUA], a maior parte da cobertura da campanha presidencial de 2004 não perdeu o caráter fundamentalmente sensacionalista, superficial e de concentração em assuntos triviais (como a vida pessoal dos candidatos e sua família, aspectos duvidosos de sua biografia etc.) que caracteriza o jornalismo político nos EUA."
Carlos Eduardo Lins da Silva, em "Mídia dos EUA também racha na eleição", em 3/11.
 
"A conduta da imprensa poderá ser um fator que compense, em medida ao menos razoável, o fracasso dos democratas para compor a oposição. Boa parte da imprensa importante adotou publicamente a candidatura Kerry. O provável é que, ao seu constrangimento pela atitude leviana com que se sujeitou à política belicista e falaciosa de Bush, some agora mais um motivo para empenhar-se na vigilância que só há pouco passou a exercer sobre os métodos de Bush e seus associados. A imprensa norte-americana sabe e sente as responsabilidades negativas que lhe pesam desde a sujeição que aceitou a partir do 11 de Setembro, e a busca da reabilitação ética (e jornalística, portanto) em relação ao governo pode resultar em controles positivos."
Janio de Freitas, em "O melhor", coluna de 4/11.


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